No final dos anos 2000, a EA decidiu lançar uma iniciativa que visava aproveitar algumas das suas principais marcas como jogos free-to-play. Com o nome de Play4Free, o programa utilizava as microtransações para obter lucro em títulos como Battlefield Heroes, FIFA World e Need for Speed World, mas apesar do modelo que costuma ser tão odiado, tais jogos conquistaram vários fãs.
No caso específico do jogo de corrida, tudo indicava que o seu sucesso seria bastante duradouro. Baseado em dois dos mais adorados capítulos da franquia, o Most Wanted e o Carbon, ele deixava de lado a porção offline para apostar em um mundo persistente onde os outros corredores seriam seres humanos, com todos competindo para saber quem era o mais rápido.
Basicamente o Need for Speed World funcionava como um MMO de corrida e por mais que ele tenha sido criticado no seu lançamento, aos poucos algumas melhorias foram feitas e uma comunidade se formou, com o jogo tendo ultrapassado a marca de 20 milhões de jogadores no final de 2012.
Mesmo assim, o sucesso alcançado por aquele jogo não parece ter sido o suficiente para convencer os executivos da EA a continuarem investindo no seu desenvolvimento e em julho de 2015 aconteceu o desligamento dos servidores não só do Need for Speed World, mas de todos os outros que faziam parte do Play4Free. Aquilo poderia ter sido o fim para o jogo, mas havia algumas pessoas disposta a mantê-lo funcionando.
Tudo começou antes mesmo dos servidores oficiais do jogo deixarem de funcionar, quando um jogador conhecido como Nilzao passou a fazer publicações em um fórum afirmando que seria possível manter o jogo rodando. Segundo ele, os pacotes que eram trocados entre o cliente do jogo e os servidores trafegavam sem encriptação e com eles em mãos, seria possível saber detalhes como a localização dos jogadores no mapa ou os carros que estavam dirigindo.
Nilzao garantia que se tivesse uma grande quantidade desses pacotes, um bom programador conseguiria fazer engenharia reversa e colocar o Need for Speed World para funcionar mesmo sem ter acesso ao código fonte dos servidores. Precisando da ajuda de outras pessoas para reunir a maior quantidade possível dessas informações, ele se juntou a berkay2578, um garoto de 17 anos que passou a coletar esses pacotes.
Inicialmente o plano era fazer com que o jogo rodasse apenas offline, algo que já parecia impossível de ser alcançado, mas depois de muito trabalho a dupla conseguiu atingir seu objetivo. No entanto, eles não estavam satisfeitos, afinal o trabalho realizado não contava com a principal característica de um MMO, que é permitir que várias pessoas joguem juntas. Pois isso só começou a se tornar realidade em 2017, quando nasceu o projeto Soapbox Race World.
Permitindo corridas multiplayer, naquela primeira versão não-oficial do Need for Speed World os jogadores só podiam ver seus próprios carros, mas devido a dedicação da dupla o progresso foi acontecendo lentamente. Segundo berkay2578, o esforço do amigo chegou a lhe causar problemas em casa, com a esposa reclamando que ele passava mais tempo com o jogo do que com a própria família.
Aquilo foi um indicativo de que os responsáveis pelo renascimento do jogo precisam passar o bastão. Hoje um dos líderes do Soapbox Race World é um garoto conhecido como heyitsleo, mas com os servidores criados pelo projeto podendo ser baixados por qualquer um, vários deles começaram a surgir em todo o mundo, com o principal sendo o WorldUnited, contando com mais de 35 mil jogadores. Isso permitiu que cada servidor funcionasse da maneira como o dono quisesse, como por exemplo permitindo uma progressão mais rápida para os jogadores ou até mesmo contando com carros e gráficos personalizados — e o melhor de tudo, sem recorrerem às microtransações.
Uma festa com prazo para terminar?
Mas enquanto várias pessoas se esforçam para manter esses servidores funcionando e muitas outras aproveitam a oportunidade para se divertir com um jogo que se dependesse da EA teria desaparecido há vários anos, a dúvida é sobre até quando a empresa continuará fazendo vista grossa para a iniciativa.
Sem contar com o aval daqueles que controlam a propriedade intelectual, infelizmente pode chegar o dia em que esses servidores serão obrigados a encerrar suas atividades. De acordo com algumas pessoas que mantem o Soapbox Race World rodando, elas já tentaram entrar em contato com o pessoal da Electronic Arts para pedir a devida autorização, mas nunca obtiveram uma resposta.
Uma das maneiras que essas iniciativas têm buscado de se manter longe do alvo da editora é não buscando lucro, com as doações recebidas servindo apenas para manter os servidores ligados. Por enquanto a estratégia tem dado resultado e algo que deve estar servindo de motivação para eles é o fato de outro MMO da empresa que foi resgatado pelos fãs também continuar rodando, que é o Warhammer Online: Age of Reckoning.
Resta torcer para que um novo fim para o Need for Speed World nunca aconteça. De qualquer forma, considero muito bacana ver o esforço das pessoas para preservar a história dos games, principalmente quando se trata de jogos estritamente online e que não poderiam ser aproveitados se dependêssemos apenas daqueles que o criaram e publicaram.
No mundo ideal as empresas até incentivariam este tipo de atitude, liberando o código fonte dos títulos que por um motivo ou outro elas mesmas abandonaram. Porém, a realidade mostra que em alguns casos as editoras preferem ignorar mesmo os jogos que poderiam continuar sendo vendidos, mostrando que respeitar o passado é algo que não faz parte dos planos de boa parte das companhias desta indústria.
Fonte: PCGamer
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