A radiação resultante da explosão, em 1986, do reator 4 da usina nuclear de Chernobyl, na fronteira entre a Bielorrússia e a Ucrânia, continua a ser monitorada, tanto na vida selvagem como nas florestas e na terra nas proximidades. Mesmo depois de 34 anos, a região produz alimentos contaminados com elementos radioativos.
Cientistas dos Laboratórios de Pesquisa do Greenpeace na Universidade de Exeter e do Instituto Ucraniano de Radiologia Agrícola mediram os níveis de isótopos radioativos estrôncio 90 e césio 137 em safras cultivadas perto da usina (como trigo, centeio, aveia e cevada) e descobriram que eles continuam além dos limites considerados seguros pelo governo ucraniano.
A radiação ainda está presente a 50 quilômetros do local do desastre nuclear.Fonte: Greenpeace/Denis Sinyakov/Divulgação
“Nós nos concentramos no estrôncio 90 porque ele é conhecido por estar atualmente presente no solo, principalmente na forma biodisponível, o que significa que pode ser absorvido pelas plantas”, disse a química Iryna Labunska, principal autora do estudo publicado agora na revista Environment International.
Não apenas as safras foram analisadas; 75% da madeira, usada pela população local na cozinha e em lareiras, têm ainda concentrações de estrôncio 90 acima dos limites considerados seguros.
Uma década
“O monitoramento do governo ucraniano de produtos contendo estrôncio 90 têm que estar cientes da contaminação contínua do solo e das plantas, e precisam ser aconselhadas sobre os métodos agrícolas e de recuperação mais seguros. Encontramos níveis muito altos desse isótopo nas cinzas da madeira – muitas pessoas as usam como fertilizante para as plantações”, diz a cientista.
Foram analisadas 116 amostras de grãos coletadas entre os anos de 2011 e 2019 de 13 assentamentos espalhados pelo distrito de Ivankiv, uma região a cerca de 50 quilômetros ao sul da usina de Chernobil e fora de chamada zona de exclusão (onde a entrada é proibida e sujeita a penas de prisão). Amostras de madeira (principalmente pinheiros) vieram de doze locais no mesmo distrito, coletadas entre 2015 e 2019.
A radiação nas árvores permanecerá até o fim deste século.Fonte: Greenpeace/Denis Sinyakov/Divulgação
Os resultados mostraram que 45% das amostras de grãos continham estrôncio 90 acima do permitido para consumo humano. Esse nível ainda persistirá por pelo menos dez anos. A combinação entre esse isótopo e o césio 137 apareceu em 48% das amostras, igualmente acima dos níveis considerados seguros.
A química Iryna Labunska recolhe amostras de grãos.Fonte: Greenpeace/Denis Sinyakov/Divulgação
Há estrôncio 90 além dos limites permitidos também nas árvores, e isso não deverá mudar até o fim deste século. Em uma amostra de cinzas de um forno a lenha doméstico, o nível do isótopo encontrado era 20 vezes maior do que aquele da amostra de madeira mais contaminada coletada no estudo.
Contaminação contínua
Segundo os pesquisadores, práticas agrícolas podem ajudar a reduzir as concentrações de estrôncio 90 à metade. Quanto ao uso da madeira contaminada, a recomendação é pelo fim de seu uso.
A área não é mais monitorada pelo governo ucraniano desde 2013.Fonte: Greenpeace/Denis Sinyakov/Divulgação
“Nossas descobertas apontam para a contaminação contínua e a exposição humana, agravada pela falta de monitoramento oficial de rotina, e o potencial da radiação derivada de Chernobyl se espalhar, de novo e mais amplamente, à medida que mais e mais madeira é usada para geração de energia na região”, disse o biólogo David Santillo.
Em um estudo anterior, os mesmos pesquisadores descobriram que, em partes da Ucrânia, o leite tinha níveis de radioatividade até cinco vezes acima do limite de segurança oficial do país.
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