Uma possível ótima notícia para os futuros viajantes do espaço: cientistas realizaram o mais longo experimento biológico já feito na Estação Espacial Internacional (EEI) e os resultados, publicados em 11 de junho, sugerem que a exposição à radiação do espaço por longos períodos não afeta o DNA que será repassado à gerações futuras – ao menos em camundongos.
Existe o temor de que a exposição crônica à radiação espacial possa não apenas colocar os astronautas em risco de desenvolver câncer e outras doenças, mas também de criar mutações em seu DNA. Essas mudanças nos genes, em teoria, poderiam ser transmitidas às gerações futuras. Porém os novos resultados obtidos com esse estudo sugerem que os viajantes do espaço profundo possam ter filhos com segurança, do ponto de vista biológico, quando retornam de suas missões.
Como foi feito o experimento
Para o cientista Teruhiko Wakayama, da Universidade de Yamanashi, em Kofu, no Japão, e seus colegas, estudar como a radiação espacial afeta a reprodução foi um desafio complicado: não seria possível imitar com precisão a radiação espacial com os equipamentos disponíveis aqui na Terra e a Estação Espacial Internacional não possuía freezers para armazenamento de células a longo prazo.
A solução encontrada pelo time foi liofilizar – desidratar por sublimação – o esperma dos camundongos e só depois enviá-lo ao espaço. Com o processo, se tornou possível armazenar a substância em temperatura ambiente.
O esperma de ratos mantido no espaço por até seis anos produziu centenas de filhotes saudáveis durante o estudo.Fonte: T. WAKAYAMA/UN. OF YAMANASHI/Reprodução
Para o estudo, a equipe selecionou os 12 melhores machos entre 66 camundongos, levando em conta a qualidade das ampolas. As 24 melhores ampolas de cada macho foram selecionadas e então divididas em seis caixas. Três foram enviadas ao espaço e preservadas na EEI, enquanto outras três caixas foram preservadas aqui na Terra.
Resultados promissores
Mesmo no espaço, o esperma permaneceu viável após quase seis anos. A exposição à radiação espacial não pareceu prejudicar o DNA dos espermatozoides ou a capacidade das células de produzir “filhotes espaciais” saudáveis, conforme relataram os pesquisadores responsáveis pelo experimento na revista científica Science Advances.
Quando os espermatozoides retornaram à Terra, foram reidratados e injetados em óvulos frescos de camundongos. Depois, a equipe transferiu os embriões para o útero de camundongos fêmeas. Cerca de 240 filhotes “espaciais” saudáveis nasceram de espermatozoides mantidos na EEI por quase três anos; cerca de 170 outros nasceram de espermatozoides mantidos na estação espacial por quase seis anos.
Foram feitas análises genéticas e não foram encontradas diferenças entre os filhotes dos espermatozoides mantidos no espaço e os camundongos nascidos de espermatozoides armazenados em solo. Os filhotes oriundos do esperma mantido no espaço que acasalaram, quando adultos, também tiveram filhos e netos saudáveis.
Embora os resultados sejam promissores, os cientistas ressaltam que podem não capturar todos os efeitos da radiação espacial, uma vez que a EEI é parcialmente protegida da radiação pelo campo magnético da Terra. Além disso, outros estudos apontam que a radiação espacial danifica o DNA, pelo menos em parte, ao estilhaçar moléculas de água presentes nas células. Como os espermatozoides liofilizados não continham água, eles poderiam ser especialmente resistentes à radiação.
Foto de Amina Filkins no Pexels Fonte: Amina Filkins/Pexels
Riscos da exposição à radiação
Aqui na Terra, o campo magnético do planeta nos protege da radiação do espaço. Já na Estação Espacial Internacional, estudos apontam que o recorde de exposição é de 523 microsieverts por dia. A longa exposição a esse tipo de radiação pode causar dano celular e no DNA, o que, por sua vez, pode levar ao desenvolvimento de câncer, catarata, problemas cardíacos, doenças neurodegenerativas e até mesmo problemas comportamentais.
Até o momento, não está completamente claro qual é impacto da exposição à saúde humana e os efeitos de passar muito tempo no espaço podem aparecer somente muitos anos depois da exposição, segundo Marjan Boerma, bióloga especialista em radiação da Universidade de Arkansas para Ciências Médicas em Little Rock, nos Estados Unidos.
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