Resenha: Space Force – Nova série da Netflix, dos criadores de The Office

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Space Force é uma série da Netflix dos mesmos criadores da versão americana de The Office. Eu confesso, só vi os primeiros episódios, Office ainda não me cativou, então comecei Space Force de cara limpa, e crianças, que série legal.

A premissa é simples: Mostra os primeiros anos da Space Force, o novo ramo das forças armadas americanas, criado em Dezembro de 2019.

A Space Force é comandada pelo General Mark R. Naird (Steve Carell), que é bem diferente de Michael Scott. Ele tem que enfrentar uma filha em estado de rebeldia (também conhecido como adolescência), uma esposa em situação cativa, a zoação dos comandantes das outras forças armadas (menos a guarda costeira) e as exigências do Presidente, que não dizem quem é mas todos sabemos quem é.

O principal assistente do General é o Dr Adrian Mallory (John Malkovich), um cientista pacifista que odeia a idéia da militarização do espaço mas vê na Space Force chance de fazer ciência. Ele às vezes se vê obrigado a ajudar o General em questões militares.

Ben Schwartz É F.Tony, diretor de mídias sociais da Space Force. O F vem de “Fuck”. Ben é um dos vários atores de Silicon Valley que você encontrará na série, junto com Jimmy Yang, que faz um cientista chinês, Dr Chang Kaifang.

Como toda comédia Space Force tem seus absurdos, mas não é Spaceballs, isso decepcionou algumas pessoas. Não é uma comédia referencial, com gags fáceis estilo Scary Movie, nem tem ritmo insano de 30 Rock.

O General também não é incompetente. Na verdade, todo mundo na série é excelente em suas áreas, o que torna mais complicado fazer humor, felizmente os roteiristas dão conta do recado. É bem mais fácil enfiar comédia pastelão, como em Avenue 5, aonde todos os personagens são basicamente retardados.

A crítica não gostou nada de Space Force, no Rotten Tomatoes a série está com meros 39% de aprovação. Curiosamente a avaliação do público sobe pra 75%. É entendível, a série não tem interesse em ser política no mau sentido, Space Force quer ser M*A*S*H, não Apocalipse Now.

Trump é devidamente sacaneado na série, ele só se comunica através de twits, e uma das primeiras gags é ele ter feito a promessa de colocar “Boots on the Moon”, mas o twit saiu “Boobs on the Moon”, todo mundo imagina que foi erro de digitação. Só que ele não é mencionado o tempo todo, Space Force não segue a linha “Hurr Durr Homem Laranja é Malvado”.

Para piorar, a série não é, em si, contra a Space Force, por mais que mostra situações ridículas como um chimpanzé canibal. E também cometem um pecado mortal em Hollywood, satirizam políticos democratas. A congressista Pitosi é uma versão descarada de Nancy Pelosi, e a congressista Anabela Ysidro-Campos é um espelho da popular deputada de extrema esquerda (pros EUA) Alexandra Ocasio-Cortez.

As duas protagonizam uma das muitas cenas sem nenhuma piada, durante uma audiência no senado. A congressista latina questiona o General Naird sobre uma laranja custar US$10 mil para ser enviada até a Estação Espacial Internacional.

Depois de muito se engasgar Naird faz um belo discurso:

“Sim, tem sido nossa política desde a NASA permitir aos astronautas meio Kg de comida de sua preferência a cada missão de reabastecimento. Às vezes não é só questão de economizar dinheiro. Uma coisa que aprendemos na vida militar é que dinheiro não importa. Pessoas importam.

Milhares de pessoas, trabalhando incansavelmente, dia e noite, e podemos gastar um bilhão de dólares para colocar uma astronauta em uma posição aonde ela poderá fazer algo que beneficiará todo mundo. E aquela astronauta pode ser um ser humano que está arriscando sua vida em uma missão muito perigosa.

Um ser humano que não está fazendo isso por dinheiro, aliás. Um ser humano que está enfrentando o medo, exaustão e incerteza. E que vem comendo macarrão com queijo desidratados, misturados com sua própria urina filtrada, pelo último mês.

Eu quero que ela tenha um gostinho da Terra, e se lembre pelo que está lutando“

A cena é amenizada com um congressista terraplanista, que também é despachado pelo general.

Também são devidamente criticados os fanáticos de mídias sociais e bilionários que usam networking para conseguir contratos com o governo, sem efetivamente entregar nada.

A Ciência de Space Force

Se Space Force desagradou a crítica iluminada por não ser política, e defender exploração espacial, a turma da divulgação científica foi igualmente desagradada, pela falta de precisão científica nesta comédia.

A impressão é que a ciência da série foi escrita por pessoas muito bem-intencionadas mas com pouquíssimo conhecimento formal. Colocarem a sede da organização (incluindo plataformas de lançamento) no Colorado é uma péssima idéia, americanos não ficarão tão passivos diante de pedaços de foguetes caindo em suas casas quanto os chineses.

Os foguetes são um samba do crioulo doido, um foguete indiano é basicamente um Soyuz russo com bandeira trocada, e arrumaram um foguete americano que mistura um Ariane com Falcon 9s como foguetes auxiliares.

Lançamentos são decididos em minutos, e na série chimpanzés são lançados em missões espaciais, algo que os EUA não fazem mais desde os anos 60. Em verdade somente dois chimpanzés fizeram vôos espaciais pelos EUA.

Em resumo, não assista Space Force pela ciência.

Os Inimigos

Sim, é a China. É mostrado com todas as letras, inclusive com atos de sabotagem. Os russos agora são amigos, ou pelo menos “aliados”, há até um adido militar russo na Space Force que é o mais descarado espião desde um agente da ABIN que eu conheci e tinha cartão de visita (juro). A rivalidade culmina com uma corrida para a Lua, em um arco que pode ser visto como uma paródia de Armageddom.

O Drama

Calma, não é aquela choradeira que virou For All Mankind, apenas os personagens em Space Force têm problemas, inseguranças, momentos de fraqueza, são mais do que veículos para piadas. Rapidamente passamos a nos importar com eles, inclusive uma cena genial com o Dr Mallory que começa ridícula, vai se tornando mais íntima e depois de armar a piada mais óbvia do mundo, não é feita a punchline, não há piada, apenas um momento constrangedor e você se sente mal por ter rido no começo.

Em alguns momentos Space Force lembra Scrubs, aquela deliciosa comédia que adorava dar um soco no estômago do espectador, sem avisar.

Conclusão

Space Force é uma série para quem quer humor inteligente, sem o ritmo frenético da maioria das comédias. Também é para quem coloca o humor na frente da agenda política, e quer uma série divertida, não uma cartilha.

Definitivamente não é uma peça de recrutamento, ninguém vai entrar na Space Force do Trump por causa dessa série, mas pode ser que o espectador saia com um respeito renovado pelo conceito de exploração espacial.

A série já está disponível na Netflix.

Cotação:

5/5 Dinossauros da SpaceX

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