Quando a Samsung ensaiou acabar com a linha Galaxy Note (embora ela nunca tenha admitido isso, para quem sabe ler, pingo é letra), eu apontei que se a companhia sul-coreana fizesse por onde, a estratégia seria útil para fortalecer os esforços de desenvolvimento na linha Galaxy S, enquanto a mesma incorporaria os elementos principais da linha “irmã”.
Não só a Samsung desenvolveu um plano meio capenga para isso, como não levou a percepção do público. Como resultado, o Galaxy S21 Ultra teria ido muito mal nas vendas, ao ponto da companhia decidir a contragosto pelo lançamento de um novo Galaxy Note em 2022.
Quando o Galaxy Note foi originalmente lançado em 2011, a ideia da Samsung era oferecer um produto poderoso para um público diferenciado, que ainda se sentia órfão da Palm mas que queria algo mais em um celular. O tamanho avantajado e a presença da S Pen o fixaram primariamente como uma ferramenta de trabalho, para ser usado como um bloco de anotações e agenda eletrônica com recursos poderosos.
Não por acaso o alvo inicial da Samsung era o cliente corporativo, que poderia ter no Galaxy Note um precioso auxiliar no trabalho, enquanto continuaria sendo um gadget multimídia para as horas de lazer. Por vários anos, a empresa manteve as linhas S e Note suficientemente diferentes, ao ponto de fidelizar dois públicos distintos, que não seriam intercambiáveis: quem preferia o S não migraria para o Note apenas 6 meses depois, e vice-versa.
Os problemas começaram quando a evolução natural dos smartphones permitiu que o Galaxy S avançasse numa taxa mais rápida que o Note, especificamente no tamanho das telas. Tirando detalhes pontuais aqui e ali, as únicas diferenças cruciais entre as duas linhas eram o design, mais curvo no primeiro e mais angulado no segundo, e a óbvia presença da S Pen na linha Galaxy Note.
Em 2020, os Galaxies S20+ e S20 Ultra eram idênticos em tudo ao Note 20+ e Note 20 Ultra, com o agravante que o último não recebeu um upgrade de processador, o que teria levado a Samsung a traçar um plano para abandonar sua segunda linha de smartphones de ponta (a nomenclatura “foblet” perdeu o sentido faz tempo), de modo a concentrar todos os esforços anuais de P&D na linha Galaxy S.
A ideia no papel faz sentido, mas ela dependia de uma série de procedimentos para convencer o consumidor do Galaxy Note a migrarem para o Galaxy S, e como esperado, isso não aconteceu.
Em 2021, a Samsung introduziu o Galaxy S21 Ultra, que seria o “testador de águas” para um futuro fim da linha Note, que de fato não terá um representante no mercado neste ano. O produto é tudo o que se esperaria do topo de linha do segundo semestre, com uma tela enorme e performance estelar, porém a fabricante achou que o usuário fã do Galaxy Note aceitaria pagar mais pela mesma coisa.
Isso porque o Galaxy S21 Ultra não vem com a S Pen, que precisa ser comprada separadamente. Pior, o celular não possui o slot dedicado, e para andar com o gadget e a canetinha, é preciso comprar mais um acessório, a capa dedicada.
A Samsung se esqueceu que a percepção do consumidor não é um fator a ser levado de forma leviana, e aprendeu isso da pior maneira possível: de acordo com fontes próximas, as vendas do Galaxy S21 Ultra (o único da linha que suporta a stylus, é bom lembrar) foram extremamente baixas, muito aquém do esperado pela empresa.
De um modo geral, donos dos Galaxies Note mais recentes preferiram manter seus atuais aparelhos, ao invés do que a fabricante acreditou piamente que aconteceria, todo mundo gastaria grana com um kit de três produtos, para fazer o mesmo que apenas um no passado. Ou seja, ninguém aceitou ser feito de trouxa.
Agora que a água bateu na bunda, a Samsung estaria pronta para engolir o sapo e retomar o cronograma original, com um novo Galaxy Note dando as caras somente em 2022, porque a janela para este ano já se fechou. É bem provável que ele se chame mesmo Galaxy Note 22, já que a atual numeração segue o ano vigente.
Embora hajam informações de que o Galaxy Z Fold 3 seja lançado com suporte à S Pen (se ela virá ou não na caixa, ainda não se sabe), o experimento com o Galaxy S21 Ultra já mostrou que oferecer a stylus à parte não é o suficiente para substituir um produto que é uma solução em si mesmo. No fim, o Galaxy Note deverá continuar entre nós por mais tempo, ainda que não tenhamos um novo modelo em 2021.
Fonte: SamMobile
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