Satélites podem ter subestimado aquecimento global por décadas

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Todos os dias recebemos notícias sobre as mudanças climáticas no planeta ou de problemas derivados delas. São os níveis dos oceanos aumentando, a temperatura subindo e desequilíbrios em ecossistemas – para citar algumas. A mais recente é a de que o aquecimento global que já ocorreu pode ter sido ainda pior do que se pensava: um novo estudo descobriu que medições de satélite provavelmente subestimaram o aquecimento dos níveis mais baixos da atmosfera (troposfera) nos últimos 40 anos.

“As medições de satélite da troposfera subestimaram sua temperatura ou superestimaram sua umidade”, disse o líder do estudo Ben Santer, cientista climático do Laboratório Nacional Lawrence Livermore – LLNL, na Califórnia, em um comunicado publicado em 20 de maio no Journal of Climate.

Vapor de águas tropicais, destacado em vermelho, em imagem da NASA.Vapor de águas tropicais, destacado em vermelho, em imagem da NASA.Fonte:  NASA/Reprodução 

A equipe de Santer comparou quatro proporções diferentes de propriedades climáticas: a proporção da temperatura da superfície do mar tropical com o vapor de água tropical; a proporção da temperatura da troposfera inferior para o vapor de água tropical; a proporção da temperatura da troposfera média e superior para o vapor de água tropical; e a relação entre a temperatura média e alta da troposfera com a temperatura da superfície do mar tropical.

Nos modelos utilizados para medir o aquecimento global, essas proporções são estritamente definidas com base nas leis físicas que regem a umidade e o calor: é preciso mais energia para aquecer o ar úmido do que o ar seco, porque a água suga o calor com eficiência; o ar mais quente também pode reter mais umidade do que o ar mais frio – um fenômeno que é visível no orvalho da manhã: conforme o ar esfria durante a noite, ele derrama água.

Conclusões do estudo

O estudo concluiu que embora equações físicas básicas governem a relação entre temperatura e umidade do ar, muitas medições de temperatura e umidade usadas em modelos climáticos divergem dessa relação. “Atualmente é difícil determinar qual interpretação é mais confiável”, disse Santer.

Para o cientista, a análise revela que vários conjuntos de dados observacionais parecem estar em desacordo com outras variáveis complementares – aquelas que se relacionam fisicamente entre si – que são medidas independentemente. As principais discrepâncias encontradas estão nos dados com os menores valores de aquecimento da superfície do oceano e troposférico, o que leva a equipe a crer que as medições que mostram o menor aquecimento também podem ser menos confiáveis.

Estudo verificou temperatura dos oceanos.Estudo verificou temperatura dos oceanos.Fonte:  Freepik 

Mas os pesquisadores descobriram que as observações de satélite não seguiram as regras supostamente bem definidas – eles caíram em uma ampla faixa, dependendo de qual conjunto de dados foi utilizado. Isso pode significar que conjuntos de dados que se adaptam melhor às regras físicas que regem a umidade e o calor são mais precisos do que outros.

Os conjuntos de dados que melhor seguem as regras para taxas de vapor de água e temperatura tendem a ser aqueles que mostram o maior aquecimento da superfície do mar e da troposfera – descobriram os pesquisadores. Da mesma forma, os modelos que melhor seguiram as regras para as temperaturas média e alta da troposfera e as taxas de temperatura da superfície do mar foram aqueles com medições mais altas da temperatura da superfície do mar.

Ainda não dá para cravar que os satélites estão errando – mais estudos precisam ser feitos. Mas utilizar os modelos para testar as observações do mundo real pode ajudar os pesquisadores a rastrear o aquecimento histórico com mais precisão, segundo o coautor do estudo, Stephen Po-Chedley, cientista atmosférico do LLNL. “Essas comparações entre medições complementares podem lançar luz sobre a credibilidade de diferentes conjuntos de dados”, disse o pesquisador.

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