Enquanto a Europa lida com a segunda onda de covid-19, o Brasil vive um clima de “acabou pandemia”, com praias cheias e o comércio reabrindo – mas já sentindo as consequências: nove capitais (Florianópolis, João Pessoa, Maceió. Belém, Fortaleza, Macapá, Natal, Salvador e São Luís) registraram aumento no número de infectados.
As praias do Rio de Janeiro se encheram em agosto deste ano.Fonte: Agência Brasil/Fernando Frazão
“A possibilidade de ser uma segunda onda deve servir de alerta para que as autoridades locais repensem ou revertam políticas de flexibilização”, disse ao jornal O Globo o pesquisador Marcelo Gomes, coordenador do InfoGripe, sistema mantido pela Fiocruz que usa registros da doença do Ministério da Saúde (MS).
Segundo especialistas ouvidos pela BBC, é praticamente impossível o Brasil impedir que a segunda onda de covid-19 varra o país – como e quando são as incógnitas.
O que fazer
Testagem do Coronavírus
Só é possível saber o real quadro de infecções com a testagem em massa da população. “Onde não se fazem testes, não são encontrados casos”, disse Ferreira. No Brasil, porém, metade dos testes aplicados é do tipo rápido, que aponta somente se a pessoa já teve o vírus – não se ele está ativo.
O Instituto Butantan montou postos de testagem em estacionamento de shoppings, em São Paulo.Fonte: Agência Brasil/Rovena Rosa
Em outubro, a China testou 4,75 milhões de pessoas na cidade Kashgar, depois que um único caso de covid-19 foi relatado.
Isolamento e rastreio
O protocolo determina tanto isolar os contaminados por duas semanas, como rastrear todos os que tiveram contato com o doente. O MS tem um aplicativo para isso (o Coronavírus SUS), mas uma pesquisa feita em mil cidades pela Fiocruz mostrou que é o Whatsapp o grande aliado do Sistema Único de Saúde (SUS): mais de 40% dos acompanhamentos de pacientes são feitos por meio do aplicativo de mensagens.
Dados confiáveis
“Não temos certeza sobre a precisão dos dados sobre a doença ou a frequência com que são disponibilizados. Não basta saber que ocorreram cem mil casos; precisamos de dados sobre quando, como e quem”, disse o físico Silvio Ferreira, especializado em modelagem epidêmica.
Em junho, a Universidade Johns Hopkins chegou a excluir o Brasil do balanço global sobre a pandemia um dia depois de o governo federal mudar a forma como divulgava o avanço da pandemia no país.
Ações coordenadas
Em menos de um ano, o país teve três ministros da saúde e incontáveis brigas entre chefes dos executivos municipal, estadual e federal. O problema vai além de picuinhas políticas: a Universidade de Oxford entrevistou prefeitos e gestores de saúde de 4.061 cidades brasileiras entre março e agosto e descobriu que as medidas de contenção adotadas não foram resultado de decisões conjuntas entre municípios vizinhos.
A flexibilização das regras de isolamento, em março, aconteceu sem sincronia entre os governos estaduais e federal.
Antecipar-se à segunda onda
A Itália somente percebeu a chegada do novo coronavírus quando ele já circulava pelos hospitais e os próprios médicos haviam se tornado vetores da doença. Os impactos de uma segunda onda só seriam percebidos muito tempo depois, quando fosse tarde demais para agir.
Com o relaxamento das restrições, as ruas voltaram a se encher em São Paulo.Fonte: Fotos Públicas/Roberto Parizotti
“Nossos representantes deveriam estar pensando desde ontem em como capacitar o sistema de saúde e reabrir ou ampliar hospitais e UTIs”, disse o médico José Luiz de Lima Filho, da Universidade Federal de Pernambuco, à BBC.
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