De invasores espaciais à incessante caça aos nazistas, os games sempre tiveram uma certa predileção por conflitos e no geral as pessoas souberam lidar bom com a temática. Porém, isso mudou em 2009 quando a Konami anunciou o Six Days in Fallujah, jogo que prometia recriar confrontos vívidos por soldados norte-americanos em novembro de 2004, conseguindo assim reunir contra ele tanto os apoiadores quanto os críticos da Guerra do Iraque.
Desenvolvido pela Atomic Games, o título nos colocaria para acompanhar um esquadrão de fuzileiros navais por seis dias, tentando ser o mais fiel possível aos eventos relatados por pessoas que presenciaram a ação. Para isso a equipe responsável chegou a entrevistar mais de 70 indivíduos, incluindo soldados, civis e insurgentes iraquianos, historiadores e militares veteranos, além de ter realizado uma extensa pesquisa em livros como We Were One: Shoulder to Shoulder with the Marines Who Took Fallujah, de Patrick K. O’Donnell’s.
De acordo com pessoas que trabalharam no projeto, a intenção da equipe era fazer com que o jogo funcionasse como um survival horror, mas sem a presença de forças sobrenaturais, com o enredo mirando na complexidade psicológica presente naquela batalha. Não entendeu? Então imagine estar numa cidade extremamente hostil, tendo que vasculhar casa por casa e sabendo que em uma delas poderia haver alguém disposto a perder a vida, mas levar alguns dos inimigos junto com ele.
Mas há também o outro lado daquele terrível conflito, já que os militares americanos foram acusados de cometer diversos crimes de guerra durante a invasão, de ataques com fósforo branco a utilização de munições enriquecidas com urânio. O resultado teria sido um significativo aumento na taxa de câncer e de mortalidade infantil em Fallujah, fazendo com que os registros sejam até maiores do que aqueles vistos em Hiroshima e Nagasaki em 1945.
Pois além deste suposto foco na realidade, a então proximidade com os eventos fez com que o Six Days in Fallujah fosse duramente criticado na época do seu anúncio. Preferindo não permanecer no olho do furacão, a Konami logo desistiu de publicar o título e sem que a desenvolvedora conseguisse uma editora para bancar o projeto, em 2011 a Atomic Games acabou se vendo obrigada a fechar as portas.
Tudo indicava que aquele era o fim do projeto, até que nos últimos dias recebemos a notícia de que ele estava de volta, agora sob os cuidados da Highwire Games e com a sua publicação sendo assinada pela Victura. Prometendo que este será um jogo totalmente novo, o estúdio conta em seu quadro de funcionários com pessoas que participaram da criação de jogos para as franquias Halo e Destiny, entre eles o game designer Jaime Griesemer e o compositor Martin O’Donnell.
Já sobre a intenção de fazer do título um autêntico jogo de tiro militar e utilizá-lo para prestar homenagem a aqueles que lutaram na Segunda Batalha de Fallujah, quem falou foi o fundador da Victura (e ex-CEO da Atomic Games), Peter Tamte:
“É difícil entender como realmente é um combate através de pessoas falsa fazendo coisas falsas em lugares falsos. Esta geração mostrou sacrifício e coragem no Iraque de maneira tão notável quanto qualquer outra. E agora eles oferecerão a todos nós uma nova maneira de entendermos um dos eventos mais importantes do nosso século. Está na hora de desafiar o ultrapassado estereotipo sobre o que os videogames podem ser.”
No entanto, não demorou para que algumas pessoas começassem a questionar a real intenção por trás do novo anúncio do Six Days in Fallujah, entre elas Daniel Ahmad. Segundo o analista de mercado, a taxa de recrutamento das forças armadas nunca esteve tão baixa e o fato de pessoas ligadas ao FBI e a CIA estarem no projeto ajudaria a justificar a existência de um jogo que explora crimes de guerra cometidos pelos Estados Unidos.
Entre estas pessoas estaria o próprio Tamte, já que por vários anos ele atuou a frente de empresas que forneciam simuladores de treinamentos para os militares americanos, entre elas a Atomic Games. Na época o estúdio foi financiado parcialmente pela In-Q-Tel, uma empresa de capital de risco fundada justamente pela CIA.
Em sua defesa, a Highwire Games afirma que a nova versão está sendo financiada de maneira independente e que parte do valor arrecadado com as vendas do Six Days in Fallujah será doada para organizações que ajudam veteranos que de alguma forma foram afetados pela guerra. Além disso, eles garantem que apesar da campanha principal contar com trechos em que controlaremos civis iraquianos desarmados, não será possível assumir o papel de insurgentes, mesmo no modo multiplayer.
Por fim, quem também defendeu o projeto foi o sargento Eddie Garcia, que lutou em Fallujah, foi ferido em combate e lá em 2005 propôs o conceito para o jogo. Para ele, “a guerra é cheia de incertezas e decisões difíceis que não podem ser compreendidas ao assistir alguém na TV ou na tela do cinema tomando estas decisões por você” e é por isso que “os videogames podem ajudar todos nós a entender os eventos do mundo real de maneira que outras mídias não podem.”
A previsão é de que Six Days in Fallujah seja lançado em algum dia de 2021, com versões para PC, PlayStation 5 e Xbox Series X|S. Isso é claro, se não houver mais uma enxurrada de críticas e o desenvolvimento voltar a ser cancelado.
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