Há exatamente meio século, Gene Roddenberry criou a série de programas para televisão denominada Star Trek, exibida no Brasil com o nome de “Jornada nas Estrelas”. Eu não vou me dar ao trabalho de descrevê-la aqui porque não creio que entre os leitores exista um sequer que não a conheça. Mesmo porque quem se der ao trabalho de consultar o verbete correspondente da Wikipedia verá que aquela série deu origem a desdobramentos – novas séries, filmes, animações – que se estendem até hoje e, suspeito, se estenderão pelos menos por mais meio século. Eu era seu espectador assíduo desde os tempos em que era exibida aqui no Brasil em preto e branco. A história que servia como fio condutor da trama era meio boba, ingênua até. E, com raras exceções, os enredos de cada capítulo eram… enfim, eram enredos de uma série televisiva sem grandes pretensões. Sequer os atores eram grande coisa – com exceção do William Shatner, que representava o Capitão James Tiberius Kirk, péssimo como herói interestelar, mas que veio a se revelar anos mais tarde como um excelente ator cômico (espero que estas opiniões não me levem a ser esfolado vivo pela tribo dos “ trekkies ”, os fanáticos admiradores da série que ainda existem espalhados por todo o planeta e, quiçá, fora dele). Mas, se a história era tola, os capítulos igualmente tolos e os atores pífios, por que cargas d’água eu assisti à série (e algumas de suas sequelas) com tanto interesse? Figura 1: o telecomunicador de Star Trek (Reprodução/StarTrek) Fácil: pela fascinante, engenhosa, criativa e muito bem materializada concepção da tecnologia usada no “futuro” lá deles. Se você levar em conta que nos anos sessenta os objetos mais parecidos com um telefone celular eram o relógio do Dick Tracy e o sapato do Agente 86 (quem não sabe quem são, não sabe o que perdeu…), o telecomunicador usado pelos personagens da série para trocar mensagens de voz de um planeta para outro era um prodígio (veja-o na Figura 1 obtida no sítio “ Ramparts of Civilization ”). E prodígios não menos prodigiosos eram o teletransporte de pessoas coisas e animais, assim como aquele miraculoso aparelho que fazia diagnósticos médicos sem tocar no paciente, denominado “tricorder” e usado pelo Dr. McCoy (atenção, jovens: no caso, o prefixo Mc não significa que o bondoso doutor compunha funk, apenas era a parte de seu nome que indicava ser ele descendente de escocês). E mais um monte de badulaques. Hoje confirmo que meu interesse pela série era mais que justificável pois já há sobejas demonstrações que seus autores acertaram boa parte de suas previsões, como telefones celulares, tabletes, teleconferência e Google Glass. Quer verificar? Visite a página “ Star Trek has been predicting the future since 1966 “. E tenho fé que ainda acertarão muitas outras. Que um septuagenário como eu não terá a oportunidade de testemunhar, porém meus netos terão. Mas pelo menos mais uma daquelas previsões eu presumo que verei se materializar. E justamente uma dentre as que me pareciam mais inacreditáveis. Figura 2: Capitão Kirk e seu objeto futurista pero no mucho (Reprodução/StarTrek) Repare na Figura 2, onde aparece o audaz Capitão Kirk segurando algo que se assemelha a um barbeador elétrico. Você tem ideia do que seja? Certamente nesta altura dos acontecimentos os “ trekkies ” mais fanáticos já o terão identificado: trata-se de um “ Universal Translator ” (tradutor universal), um dispositivo sem fio de comunicação por voz no qual um dos usuários se exprime em qualquer idioma de sua escolha e seu interlocutor ouve no seu próprio. E vice-versa. Da primeira vez que vi este “ gadget ” (em português: “badulaque”) achei que seria uma daquelas invenções impossíveis de se materializar e concebida apenas para permitir que os autores pudessem dar sequência aos episódios da série fazendo com que os tripulantes da Enterprise se comunicassem com seres de outras galáxias. Pois bem, recentemente soube que há mais de uma década a Microsoft vem tentando desenvolver uma versão limitada do dito badulaque, abrangendo apenas parte dos idiomas existentes neste planeta. Que Rich Rashid, pesquisador da MS, em um evento de informática realizado na China em 2012, chegou a apresentar um modelo funcional, ainda em fase de demonstração, mas que provou ser capaz de traduzir do Inglês para o Mandarim mas que ainda estava longe de atingir estágio de comercialização. E agora sou surpreendido com a notícia que há exatamente uma semana, na terça-feira passada para ser preciso, durante sua palestra na Code Conference, um evento realizado em Rancho Palos Verdes, na Califórnia, EUA, Satya Nadella, o novo CEO da Microsoft, não apenas anunciou o lançamento do Skype Translator, um programa capaz de traduzir em tempo real conversas entre dois interlocutores via Skype permitindo que cada um deles fale em seu próprio idioma enquanto o outro ouve no seu, como também o demonstrou publicamente pela primeira vez em solo americano. Segundo Nadella, o produto ainda está em estágio de pesquisa, mas ele espera lançá-lo em dois anos e meio (ou seja: no final de 2016). Mas garante que uma versão beta, funcional, estará disponível até o final deste ano. No evento não ficou claro se o Skype Translator será gratuito. Tudo indica que não, o que muito provavelmente fará dele mais uma perene fonte de lucros para a MS. Afinal, hoje o Skype tem mais de trezentos milhões de usuários e transmite dois bilhões de minutos de conversas a cada dia (tempo que, se as conversas não fossem simultâneas, corresponderia a quase 65 anos de papo furado) e pode ser usado em uma enorme variedade de dispositivos, desde telefones espertos até poderosas máquinas de mesa. O Skype Translator transmite não apenas conversas por voz via Internet como também com suporte de vídeo. Quando a versão comercial estiver disponível, permitirá troca de ideias entre pessoas de diferentes continentes que sequer falam o mesmo idioma. Um produto como este certamente terá uma demanda explosiva. Tão explosiva que a MS pode até se dar ao luxo de cobrar bem baratinho e ainda assim faturar uma grana preta. No artigo “ Unveiling Breakthroughs in Real-Time Translation with Skype Translator ” você pode encontrar um vídeo exibindo uma entrevista com Satya Nadella onde ele dá informações sobre o produto, acompanhada de uma demonstração ao vivo onde Gurdeep Singh Pall, Vice Presidente da MS (que não fala alemão) mantém uma comunicação de voz e vídeo com Diana Heinrichs, que trabalha na MS (e se exprime em alemão), sobre a intenção de Singh Pall mudar-se de Seattle para Londres para se juntar à equipe de desenvolvimento do Skype. Durante toda a conversação, Singh Pall fala em inglês, o Skype Translator traduz para o alemão e não somente reproduz a frase em áudio como a escreve sob a forma de legenda no computador de Diana. Que por sua vez fala em alemão e o computador de Singh Pall faz o inverso, traduzindo para o inglês e exprimindo a frase em áudio e legenda. Vale a pena assistir. Como também vale a pena assistir este vídeo da própria Microsoft demonstrando seu produto (preste atenção nas legendas que aparecem nas telas dos usuários). E aí está em plena ação o Universal Translator da tripulação da Star Trek em sua versão 1.0, (ainda sem o idioma Klingon). Eu confesso que jamais supus que daqui a dois anos e meio, quando o produto for lançado, eu terei no bolso meu próprio tradutor universal (quase) igualzinho ao da tripulação do Enterprise: meu Nokia Lumia 1520 velho de guerra. Porque até o final de 2016 eu chego. Pelo menos assim espero… B. Piropo saiba mais Skype irá traduzir chamadas de voz para vários idiomas em tempo real Leia as colunas do B. Piropo Desperdiçando tempo na rede
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