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SpaceX faz História: Primeiro vôo da Starship foi (98%) um sucesso

Meninos, eu vi! A Starship da SpaceX na posição mais antinatural possível para um foguete, horizontal como uma banana, caindo com estilo e realizando a manobra que muitos disseram impossível, tudo isso construído a troco de Pinga. Marte, aí vamos nós.

Starship aguarda pacientemente a hora de subir. (Crédito: Reprodução YouTube)

Um ano atrás Elon Musk apresentou o primeiro modelo em tamanho real da Starhip, uma nave espacial do tamanho de um prédio de 12 andares, são 50 metros de altura, 9 metros de diâmetro e no total, capacidade de colocar 100 toneladas em órbita, sendo 100% reutilizável.

Um monte de gente que esqueceu ter feito o mesmo quando a SpaceX falou que iria pousar o Falcon 9 declarou ser impossível o plano de Elon Musk, de construir um foguete gigantesco em uma tenda, mas no melhor estilo Tony Stark e a caverna, foi exatamente isso que a SpaceX, usando da mais pura engenharia redneck, cortaram custos e frescuras, e os protótipos começaram a sair quase tão rápido quanto a SpaceX conseguia explodi-los em nome da Ciência.

Primeiro eles aprimoraram as técnicas de soldagem e metalurgia; aos poucos os tanques foram deixando de explodir durante os testes de pressão. Depois foi a vez dos motores; os novos Raptors foram configurados, afinados e logo estavam completamente em sintonia com o resto do foguete.

Seguindo a filosofia de não reinventar a roda, os flaps gigantes são movidos por motores elétricos dos carros da Tesla; no nariz da nave, quatro baterias também da Tesla alimentam as bombas do sistema hidráulico.

Em 27 de Agosto de 2019 o Starhopper, talvez o foguete mais feio da História decolou. Era uma horrenda caixa d’água, com um motor Raptor, o teste era para comprovar as técnicas de navegação e controle de potência.

Incrivelmente tudo deu certo apesar de alguns tanques de pressão terem se desprendido, e o Starhopper subiu 150m e depois pousou de forma graciosa.

Em 5 de Agosto de 2020 a SpaceX já tinha construído vários protótipos, era a vez da Starship SN5, que faria um teste de vôo a 150 metros de altitude.

Usando apenas um Raptor, sem bico e com um simulador de massa no nariz, o enorme silo de cereais disfarçado de foguete decolou e pousou!

Esses testes todos eram simples, tradicionais, mas a Starship é muito mais complicada do que isso. Ela usa a mesma filosofia do Falcon 9, um foguete primário faz o trabalho duro de levar a nave até o limiar do espaço, depois retorna, pousando suavemente em terra ou em uma balsa.

A diferença é que o Super Heavy tem 72 metros de comprimento e pesa vazio 180 toneladas. Enquanto o Falcon 9 tem 9 motores, o Super Heavy terá 28. Só isso já será uma visão impressionante, mas a Starship sozinha já é um espetáculo.

Depois de separada do Falcon Heavy, ela terá capacidade de entrar em órbita, ser reabastecida, viajar para qualquer lugar do sistema solar e pousar em lugares como Marte.

De volta à Terra, ela executará uma série de manobras inéditas, e parte disso foi testado dia 9 de Dezembro de 2020.

Basicamente, a Starship ao invés de entrar com tudo castigando um escudo de calor, vai entrar na atmosfera de barriga, usando quatro flaps gigantes para controlar sua posição e maximizar a área de exposição. Em essência é o mesmo que um paraquedista faz, quando cai com o corpo na horizonta, com braços e pernas abertas sua velocidade terminal é bem menor do que se caísse em pé com os braços cruzados, por causa do maior arrasto aerodinâmico.

Caindo com estilo. (Crédito: Reprodução YouTube)

Obviamente que uma nave de 50 metros deitada em trajetória vertical a trocentos km/h não está voando, está caindo com estilo, e não é uma situação ideal, não por muito tempo.

Agora entra a segunda manobra: Quando a Starship estiver próxima o bastante da área de pouso, ela irá religar alguns motores, realizar uma virada de barriga, voltar pra vertical, estender o trem de pouso e pousar suavemente.

Um monte de coisas podem dar errado nessa hora, e outras simplesmente não funcionam. Com o foguete caindo na horizontal, o combustível nos tanques está em queda livre, flutuando, e acionar os motores significaria aspirar essencialmente nitrogênio ou hélio, dependendo do que a SpaceX use para pressurizar o bicho.

A solução da SpaceX? Um segundo tanque no nariz da Starship, com combustível e oxidante, que como está cheio funciona em qualquer posição é usado para alimentar os motores nessa última fase. O que não é nada trivial, estamos falando de motores que funcionam a uma pressão de 300 atmosferas, uma bolha de ar ali no meio é suficiente para destruir tudo. Trocar a fonte de combustível e oxidante de um tanque para outro não é fácil.

Mesmo assim, foi feito.

O Teste

Em 9 de Dezembro de 2020 o protótipo SN8 da Starship decolou de Boca Chica, Flórida, propulsionado por três motores Raptor. Durante a ascensão até a altitude planejada de 12,5Km, o combustível foi sendo consumido, o que tornava a nave mais leve. Para compensar, os motores foram sendo desligados. Primeiro um, depois dois, até que o final da subida foi feito com um único motor.

Alguns segundos antes de se desligar, o terceiro motor iniciou uma manobra para colocar a Starship na horizontal. A manobra foi concluída com auxílio dos jatos de manobra. Daí em diante era pra baixo e avante!

Os flaps funcionaram perfeitamente, a Starship assumiu uma posição inclinada que gerou alguma velocidade horizontal, direcionando-a para a área de pouso.

Nessa hora o pessoal da SpaceX já estava em êxtase, as chances do bicho decolar eram de 30%, eles estavam vendo todas as manobras previstas dando certo, inclusive o religamento de motores. Os engenheiros estavam se afogando em deliciosos e suculentos dados.

Na parte final a Starship começou a manobra de pouso, com dois motores, mas segundo Elon Musk faltou pressão no sistema de combustível, os motores perderam potência. Logo um deles morreu de vez, e o outro recebeu mais oxigênio do que combustível, gerando uma mistura rica demais, oxidando o interior do motor e causando a chama verde, indicação de que partes de Cobre estavam sendo arrancadas e queimadas.

Sem potência pra deter a descida, a Starship atingiu o chão mais rápido do que o planejado e sofreu uma desmontagem rápida não-planejada.

O teste em si começa na posição 1h47min57seg

Como sempre, a imprensa caiu em cima, mas a campeã de falar bobagem foi a CNN. A cobertura da CNN Brasil aliás tem sido PÉSSIMA na área de ciências. Alguns dias atrás o Jeff Bezos soltou uma bravata dizendo que a Blue Origin colocaria a primeira astronauta mulher na Lua.

Foi uma bravata pois a Blue Origin é apenas uma das concorrentes no processo de seleção da NASA para construir o módulo de pouso da futura missão lunar. O foguete será o SLS, a cápsula será a Orion, e o módulo de pouso pode ser da SpaceX, Lockheed ou Blue Origin, mas era querer demais que os jornalistas  soubessem disso.

Um sujeito pegou essa bravata e escreveu uma “reportagem” na qual a CNN fala que “A Blue Origin planeja um foguete para a Lua em 2024”, com direito a mostrar o New Sheppard, o mini-elevador da BO que só sobe e desce em linha reta, dizendo que seria o tal “foguete lunar”.

Agora, a cenenê me publica isto:

Melhor ler isso que ser surdo, ou algo assim. (Crédito: Internet)

Isso mesmo. “por sorte, nave Starship não tinha tripulantes”. Ô vivente, isso não tem nada a ver com sorte ela está a ANOS de ser tripulada. Equivale a você testar a miniatura de um 737 num túnel de vento, ela quebrar e você celebrar que ele quebrou mas não ter ninguém dentro.

Ademais, não foi “susto” nenhum, esse tipo de acidente é mais que esperado, ainda mais no PRIMEIRO vôo da desgraça do foguete, e ele não explodiu no ar, explodiu quando pousou rápido demais.

Eu já escrevi sobre o triste estado da divulgação científica, mas é desesperador ver empresas grandes, com verba, equipes e equipamentos darem tão pouca atenção ao que veiculam.

Conclusão: No primeiro teste da Starship ela concluiu 98% dos objetivos, alguns diriam até 100%. Segundo Elon Musk os três motores funcionaram perfeitamente, a maior quantidade de tempo de operação contínua já registrada, a manobra pra barrigada foi igualmente perfeita e o sistema de pouso, provavelmente adaptado do Falcon 9 colocou a Starship certinha em cima da zona de pouso.

Isso tudo em um ano de desenvolvimento, usando apenas recursos próprios, e um trocado daquele japonês esquisito. Nunca tanto avanço ocorreu em tão pouco tempo, dar tudo 98% certo numa primeira vez não é comum, é quase inédito, e quem reclama disso é um belo de um cabaço, e olha que eu nem sei se posso escrever cabaço no MeioBit.

Não-ironicamente uma declaração de sucesso com a imagem de um foguete esmigalhado não é pra qualquer um. (Crédito: Reprodução Internet)




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