Stranger of Paradise: Final Fantasy Origin é uma aposta arriscada da Square Enix. Os rumores de que a empresa havia escalado a Team Ninja para produzir um jogo Souls-like (ou de forma mais adequada, Nioh-like) baseado em sua mais importante franquia circulavam a algum tempo, mas ninguém esperava que o game fosse uma reinterpretação violenta e de altíssima dificuldade do primeiro Final Fantasy, lançado em 1987 para o NES.
Como o beta está disponível para donos do PS5 até o dia 24 de junho, pudemos jogar e conferir uma palhinha do que Stranger of Paradise: Final Fantasy Origin trará em 2022, quando for lançado também para PS4, Xbox Series X|S, Xbox One e Windows.
Bem-vindos a “Nioh Fantasy”
A Team Ninja, divisão da Koei Tecmo mais conhecida pelos games das séries Ninja Gaiden e Dead or Alive, acertou muito com os dois jogos da série Nioh, considerados por crítica e público os melhores Souls-like não desenvolvidos pela FromSoftware.
Em maio de 2021, começou a circular um rumor de que a desenvolvedora teria sido incumbida pela Square Enix de criar um jogo nos mesmos moldes para a franquia Final Fantasy, o que muitos viram como um sopro de ar fresco na série com mais de 30 anos de história, ainda que ela abarque spin-offs de diversos gêneros, desde luta (Dissidia Final Fantasy, excluindo o mobile Opera Omnia, que é um RPG de turnos clássico) a musicais (Theatrhythm Final Fantasy), entre outros.
A decisão por um “dark reboot” do primeiro Final Fantasy foi inusitada, mas justificável por ser um game extremamente antigo, um RPG absurdamente simples e raso em termos de desenvolvimento, embora adequado para sua época, ainda que não tenha conseguido fazer frente ao então concorrente Dragon Quest, do tempo em que a Square e a Enix eram empresas separadas e rivais.
Stranger of Paradise: Give me Chaos!
A demo de Stranger of Paradise: Final Fantasy Origin consiste de apenas uma dungeon, o Chaos Shrine do Final Fantasy original, que era a primeira do jogo e lar do primeiro chefe, o cavaleiro renegado Garland, que havia sequestrado a princesa Sarah de Cornelia.
No jogo de 1987, os 4 guerreiros da luz eram incumbidos de invadir a fortaleza, derrotar Garland e resgatar a princesa, mas aqui Sarah não aparece, a não ser como narradora de um áudio em flashback. O número de guerreiros da luz foi reduzido para 3 (segundo a Square Enix, sua party será maior), mas só é possível controlar Jack, o furioso protagonista obcecado em destruir o vilão “Chaos”, o que virou um meme instantâneo, porque a internet não perdoa.
Ash e Jed, os companheiros de Jack, são controlados pela CPU e não podem ser customizados na demo (o serão na versão final), ou receber ordens que alteram seu comportamento, e acabam servindo como iscas de inimigos na maior parte do tempo, o que pode ser bem prejudicial durante a jornada. Isso porque como todo bom Souls-like, a dificuldade da demos de Stranger of Paradise: Final Fantasy Origin é extremamente elevada, e a Team Ninja implementou um sistema único de punição por morte, atrelado à forma de combate.
Ao enfraquecer inimigos, zerando sua barra de atordoamento antes da de energia, é possível acionar um ataque de execução, o Soul Burst, que drena a vida restante do monstro para aumentar sua barra de MP. A animação, com Jack esmurrando inimigos, rasgando-os com as mãos nuas enquanto sangue jorra para todo lado, é outro detalhe da personalidade furiosa do protagonista, algo que Tetsuya Nomura, produtor do jogo, disse estar interessado em explorar.
O jogador é estimulado a sempre procurar formas de eliminar os monstros com o Soul Burst, o que acaba expondo-o mais ao risco de morrer. Quando isso acontece, o jogador é mandado para o checkpoint com uma redução do MP, e se continuar perdendo, chegará ao ponto de que sua barra voltará ao tamanho original, que é bem pequena, limitando suas habilidades.
Stranger of Paradise: Final Fantasy Origin também faz questão de puxar o tapete de quem costuma voltar ao checkpoint para se curar após uma sessão de combate, pois todos os inimigos comuns da dungeon reaparecem no mapa após o jogador se recuperar e completar seu estoque de Potions, que é bem limitado. A única opção é seguir em frente, sempre.
O sistema de profissões também está presente, com uma mecânica herdada de Final Fantasy XV. A cada nível, você ganhará um ponto para ser gasto na árvore de habilidades, que habilitam recursos como aumento de força e inteligência, novas técnicas e no fim, uma sub-profissão avançada.
Na demo, estão disponíveis Swordsman -> Warrior, Mage -> Black Mage e Lancer -> Dragoon, mas haverão outras na versão final. O jogador pode equipar duas por vez, alternando-as ao apertar um botão.
Habilidades especiais podem ser equipadas por profissão, enquanto as básicas estão disponíveis para todas. No mais, o jogador tem à disposição a técnica do Soul Shield, uma defesa especial contra ataques específicos que nada mais é do que um parry, que habilita contra-ataques.
A progressão na dungeon da demo não é exatamente linear, você terá que dar algumas voltas para desbloquear novos caminhos, até chegar à torre final e confrontar Garland/Chaos, que é um chefe osso duro de roer, outra característica padrão de jogos Souls-like.
Por fim, os checkpoints não servem como save points. Mesmo que você chegue ao chefe final, se sair do jogo e carregar seu progresso, será mandado novamente para o começo da dungeon, e terá que fazer tudo de novo, ainda que com seus níveis e equipamentos mantidos.
Um polimento cairia bem
Tecnicamente, Stranger of Paradise: Final Fantasy Origin não passa sensação de originalidade e personalidade, ao contrário dos dois Nioh. A ambientação gótica, embora adequada ao contexto do Final Fantasy original, um RPG de turnos com estética medieval, o deixa parecido demais com os jogos da série Souls, especialmente a versão para PS5 de Demon’s Souls.
A caracterização dos personagens e inimigos, ainda que se trate de um jogo em fase de desenvolvimento, demonstra uma qualidade aquém do que se espera para um jogo desenvolvido para o PS5, mas há chances de que a demo seja nivelada por baixo, baseada nos consoles da geração anterior. Muita gente criticou a demo, dizendo que Stranger of Paradise: Final Fantasy Origin se parece com um jogo do PS3, mas não chega a tanto.
Também não dá para ignorar o tremendo papelão da Square Enix, que disponibilizou uma versão injogável no domingo (13), que só foi corrigida na terça (15), e o prazo original de acesso, entre os dias 13 e 24 de junho, não foi revisto. No fim os jogadores perderam dois dias, por uma presepada da distribuidora.
O produtor Tetsuya Nomura disse em entrevista estar interessado não apenas no aspecto psicológico de Jack, um protagonista cheio de raiva contida, como também no tema “isekai” (As Crônicas de Nárnia, Peter Pan, etc), onde os guerreiros da luz teriam sido transportados do “nosso” mundo para o do primeiro Final Fantasy. Isso é justificado porque no jogo original, nunca é mencionado de onde eles vieram.
É um esforço pensado para dar substância a um jogo de 34 anos de idade, que era raso como um pires, mas Stranger of Paradise: Final Fantasy Origin acabou próximo demais de seus principais concorrentes. Os gráficos são um tanto granulados, embora a música, com alguns temas originais recriados, se mostre adequada para a ambientação.
Os controles também precisam ser melhor pensados. Ao usar a profissão de Mage ou Black Mage, o jogador pode segurar o botão de ataque para lançar uma magia, enquanto usa o direcional direito para selecionar o elemento em uma roda de seleção, que é um pouco mais sensível do que deveria. Como a intenção é criar urgência, a Team Ninja não optou por seleção de menus, mas a solução aqui parece um tanto desajeitada.
Ainda assim, a impressão inicial de Stranger of Paradise: Final Fantasy Origin é a de um jogo com potencial para agradar os apreciadores de jogos Souls-like, e mesmo os fãs de carteirinha de Final Fantasy devem sair satisfeitos da experiência, se a Team Ninja e a Square Enix polirem bem o jogo até o lançamento final, e corrigirem detalhes na jogabilidade.
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