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Switch OLED e o maior foco da Nintendo na portabilidade

O Nintendo Switch modelo OLED, anunciado pela companhia japonesa nesta terça-feira (6), chegará ao mercado internacional em outubro de 2021 pelo preço sugerido de US$ 350, mas no Brasil ele só deverá dar as caras em 2022, por um valor não informado. Embora conte com o mesmo chip Nvidia Tegra X1 dos modelos anteriores, ele traz diferenças pontuais como uma tela OLED maior, melhorias no áudio e maior espaço de armazenamento interno.

Os ajustes introduzidos pela casa do Mario no novo console, que não será posicionado como um substituto do Switch padrão ou Lite, mostram que a Nintendo está dando maior atenção à experiência móvel do dispositivo, ao invés de focar na busca pela performance de um console de mesa. E ela tem seus motivos para isso.

Nintendo Switch com tela OLED (Crédito: Divulgação/Nintendo)

Nintendo Switch com tela OLED (Crédito: Divulgação/Nintendo)

A linha Nintendo Switch soma um total de 84,59 milhões de unidades vendidas, entre o modelo original e o Lite, desde o lançamento do primeiro em 2017. Esses números o deixam atrás da família DS (154,02 milhões), da linha Game Boy/Game Boy Color (118,69 milhões) e do Wii (101,63 milhões), mas considerando cada caso, o atual único console da Nintendo deverá no futuro assumir a terceira posição da lista, e talvez (com muito ênfase) ultrapassar os demais.

Atrás do Switch vem a linha Game Boy Advance (81,51 milhões) e a família 3DS/2DS (75,94 milhões), e só então começam a aparecer os demais consoles de mesa. Com exceção do Nintendo Wii, que foi um ponto fora da curva em sua geração, ao oferecer experiências inovadoras com captura de movimento em jogos, algo prontamente imitado pela concorrência, todos os campeões de venda da empresa são consoles portáteis.

Ainda assim, o mercado e os consumidores apostaram que a Nintendo apresentaria em algum momento uma revisão do Nintendo Switch, o tal modelo “Pro”, focado principalmente em poder de processamento e experiência como console de mesa. A justificativa seria bater de frente com o PS5 da Sony e o Xbox Series X|S da Microsoft, com resolução em 4K, gráficos de ponta e dedicação completa ao jogador “hardcore”. Só que há dois pontos a considerar aqui.

O primeiro remete à desastrosa trajetória do Wii U. Ao dar ouvidos ao público e investidores e prometer entregar um console mais poderoso, ela não só falhou em atender às expectativas, como não soube integrar a experiência disruptiva com o Gamepad, que viria a ser um antecessor do Switch. No fim, o console vendeu muito mal e a Nintendo rapidinho anunciou seu sucessor, como abraçou contrariada o mercado mobile, por pressão dos acionistas.

O Switch, por sua vez, trouxe uma experiência melhor trabalhada e uma ótima solução para o formato híbrido, que lhe permite ser usado como console de mesa e portátil, e aqui chegamos ao segundo ponto, o principal.

Melhorias introduzidas no Switch OLED se focam no uso como portátil (Crédito: Divulgação/Nintendo)

Melhorias introduzidas no Switch OLED se focam no uso como portátil (Crédito: Divulgação/Nintendo)

O Switch modelo OLED conta com melhorias interessantes, como uma tela OLED de 7 polegadas no lugar na antiga de 6,2 LCD, ainda que na mesma resolução HD (1.280 x 720 pixels), um conjunto de áudio melhor e mais claro (uma fonte de reclamação constante dos jogadores) e uma capacidade de armazenamento bem maior, que saltou de 32 para 64 GB.

No dock, a terceira porta USB 2.0, que era uma 3.0 física que nunca foi atualizada para suportar uma maior velocidade, foi substituída por um conector Ethernet, algo que uma parcela dos usuários pediam há tempos, e continua oferecendo resolução apenas Full HD (1.920 x 1.080 pixels). No mais, o Switch modelo OLED ainda não suporta acessórios Bluetooth.

Se você notar bem, a lista de mudanças do novo Switch em relação ao original se focam na experiência de uso portátil, ao invés de serem relevantes para quem prefere jogar na TV. Estes não extrairão vantagem alguma do console, tanto que poderão comprar o novo dock à parte, caso façam questão por uma porta Ethernet, e não quiserem depender de adaptadores USB, uma opção melhor e muito mais em conta, na minha opinião.

Este é o segundo ponto, e também o mais importante para a Nintendo: foi a companhia japonesa que criou o mercado de consoles portáteis, ao introduzir o Game Boy em 1989. O gadget, que foi o pivô de histórias curiosas e cheias de reviravoltas, garantiu à Big N, junto com seus sucessores, do DS e 3DS até chegar ao Switch, a liderança absoluta do setor até hoje, desconsiderando o mercado de smartphones e tablets.

Concorrentes como SEGA (Game Gear), Sony (PSP e PS Vita), Atari (Lynx), Bandai (WonderSwan) e SNK (Neo Geo Pocket), entre outras, jamais conseguiram fazer cócegas na Nintendo e seus consoles portáteis. Essa marca é uma de que a casa do Mario se recusa veementemente a abrir mão, mesmo que isso signifique depreciar a performance de ponta, garantida em consoles com foco na experiência doméstica.

A Nintendo também não prioriza a busca por poder de fogo, mas por experiências memoráveis em seus jogos, sempre focando em entretenimento familiar. Isso vem da filosofia do engenheiro Gunpei Yokoi (1941-1997), criador do Game & Watch, do D-Pad em cruz e do Game Boy original, chamada “desenvolvimento lateral com tecnologia pré-existente”.

Ela diz que um dispositivo no mercado hoje não precisa ser substituído por um sucessor obrigatoriamente mais poderoso, mas que ofereça inovadoras e radicais experiências de uso, apenas contando com um hardware já disponível aprimorado, graças ao já conhecido processo de desenvolvimento, aliado a atualizações pontuais.

Isso se mostra principalmente na sucessão do GameCube para o Wii, onde o hardware não era lá tão mais potente assim (CPU de 485 MHz contra 730 MHz, GPU de 185 MHz contra 243 MHz). A experiência, no entanto, era absolutamente diferente de tudo o que havia disponível no mercado de games até então.

Yokoi dizia que ao invés de substituir a tecnologia, a Nintendo deveria se concentrar em maturar a já usada, de modo a extrair o máximo dela a cada nova geração, o que também barateava os custos de produção. Como resultado, a companhia japonesa sempre poderia fazer mais com menos.

Modelo original do Game Boy (Crédito: The Vanamo Online Game Museum/Wikimedia Commons)

Modelo original do Game Boy (Crédito: The Vanamo Online Game Museum/Wikimedia Commons)

Levando em conta a filosofia de Gunpei Yokoi e a liderança jamais questionada da Nintendo em portáteis, fica fácil entender por que a companhia está dando maior atenção ao Switch como um dispositivo móvel, ao invés de oferecer uma versão vitaminada dele para maior performance como console de mesa.

Durante a gestão de Satoru Iwata, que cobriu as gerações do GameCube ao Wii U, e do Game Boy Advance ao 3DS, a Nintendo se posicionou não como uma concorrente direta de Sony e Microsoft, mas ao invés disso, passou a se apresentar como uma confortável “segunda opção” de videogame aos jogadores domésticos, ao mesmo tempo que mantinha a hegemonia da jogatina on the go.

A ascensão do mercado mobile, com companhias como Apple e Samsung lançando smartphones e tablets poderosos que fazem de tudo um pouco, e que hoje oferecem jogos de altíssima qualidade por preços bem menores, ou gratuitos com microtransações, praticamente atomizou o mercado de portáteis dedicados, ,no que a Sony desistiu completamente. A Nintendo não o abandonará por uma questão de princípios, e ao invés disso, acabou por integrar o portátil ao estático doméstico, transformando tudo numa coisa só.

Essa estratégia lhe permitiu poupar custos, principalmente após o fim da linha 3DS/2DS, mas o primeiro compromisso da empresa é o de manter a inovação e o interesse do público na portabilidade do Switch, e não em suas capacidades como console de mesa. Quem procura poder de processamento será melhor atendido pela Sony ou Microsoft.

Ao mesmo tempo, a Nintendo joga com a carta poderosa de suas IPs exclusivas. Salvo raras exceções mobile, que contam com experiências limitadas de propósito, o Switch é e continuará sendo o único lugar onde é possível curtir os (melhores) jogos das franquias Mario, The Legend of Zelda, Pokémon, Kirby, Donkey Kong, Metroid, Animal Crossing, Star Fox, F-Zero, Fire Emblem, Splatoon, Super Smash Bros. e etc, além de futuros títulos de outros estúdios financiados pela empresa, como Bayonetta (Platinum Games) e Xenoblade Chronicles (Monolith Soft).

Com o Switch, Nintendo mantém legado do Game & Watch e Game Boy (Crédito: Divulgação/Nintendo)

Com o Switch, Nintendo mantém legado do Game & Watch e Game Boy (Crédito: Divulgação/Nintendo)

O Switch, independente do modelo, é uma forma da Nintendo manter o legado de sua linha de consoles portáteis, que remontam até o Game Boy original e incluem até mesmo os Game & Watch, por mais limitados que fossem, e nesse sentido, a busca por performance é menos interessante e mais custosa.

Claro, nem tudo é um mar de rosas. A densidade de pixels por polegada da tela do Switch modelo OLED (209 ppi) está bem abaixo da ideal para um tablet (264 ppi), e muito longe da de um celular (326 ppi), valores estes definidos pela Apple com seus displays Retina originais, dada a distância mínima de uso e a capacidade de se enxergar pixels a olho nu. No entanto, isso não parece ser um problema tão grande para a companhia, já que uma tela OLED reproduz cores mais fiéis e preto perfeito.

A título de comparação, a tela LCD do Switch original, com 6,2 polegadas e resolução HD, possui uma densidade de 237 ppi. O Switch Lite é a versão com a melhor resolução visual, apresentando 267 ppi graças à tela menor, de apenas 5,5″.

Pesando os prós e contras, a Nintendo considera que o Switch modelo OLED servirá para atrair um maior número de jogadores que querem em primeiro lugar curtir os títulos da empresa no modo portátil, graças à tela com cores melhores e um som mais claro, enquanto que o mesmo não será tão atraente para quem prefere jogar na TV, com o dispositivo no dock. Tudo para manter o legado de seus antecessores, do Game Boy ao 3DS, estas as plataformas de maior sucesso comercial da companhia japonesa.


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