A tokenização não é um assunto recente, há pelo menos 10 anos esse tema ronda o mercado, mas sempre em forma de promessa para o futuro. Então, por que esse assunto está “dando o que falar” atualmente? Embora não seja fácil de prever quando, alguns “comos” estão sendo desenhados para que a negociação e venda de ativos financeiros em formato de tokens saia do imaginário e se torne real.
A tokenização, como sugere o nome, é transformar qualquer tipo de ativo em tokens, sejam eles reais (imóveis, estoque, entre outros), sejam financeiros (regulados pelo mercado de capitais).
Assim como a inteligência artificial (IA), que até alguns anos atrás era apenas uma promessa, despontando em blockbusters futurísticos, e hoje já é algo bem mais palpável, a tokenização hoje já é avançada o suficiente para ser levada a um ambiente de testes, e essa tecnologia é a rede blockchain.
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Aposta dos grandes players
Uma das principais empresas de infraestrutura de mercado financeiro está “de olho” nessa tecnologia. Recentemente, o CEO da B3, Gilson Finkelsztain, apontou que a companhia pode começar a usar blockchain na tokenização de ativos físicos.
Outro exemplo é o do Sandbox Regulatório da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que promove a aceleração de startups em um ambiente controlado em busca de inovações fora de regulações. Graças a uma parceria entre a fintech Vórtx e a holding QR Capital, estão sendo feitos testes de regulação dos primeiros tokens no mercado de capitais nesse sandbox, tudo utilizando blockchain.
A prova de fraudes
Em tese, é possível transformar qualquer ativo em um token, sendo ele real ou financeiro. E o “meio para um fim” quando falamos em tokenização é essa tecnologia que permite a troca de informações de forma descentralizada, em que todos os participantes da rede garantem a veracidade dos termos e das condições. Desde seu surgimento (em meados de 2008) até hoje, a blockchain é à prova de fraudes. Como não há fraude, não há questionamento de confiança.
Uma questão central quando falamos de crédito é a confiança, muito pautada em reputação, histórico e law enforcement — medida de cumprimento de leis e punição de quem as descumpre.
Temos um conjunto de leis que, para serem aplicadas, precisam de interpretação, ou seja, é a prática humana que faz a lei ter efeito. Quando traduzimos um código para blockchain, é ele quem faz a operação de forma inquestionável. Uma planilha operada por uma pessoa pode ser questionável, uma rede de consenso como o blockchain, não.
Uma vez que isso está na blockchain, não é necessário o aval de mais ninguém. As regras foram combinadas, e a representação está correta. Com isso, a tokenização de ativos financeiros é uma grande oportunidade para o mercado, pois elimina a necessidade de confiança e desvincula a avaliação de risco de um agente centralizado e corruptível.
Desafios regulatórios
Ofertar algo no mercado carece de regulação de órgãos como a Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Há alguns caminhos que podem ser percorridos para criar essa forma de negociar ativos. Tokenizar não é proibido, mas sua distribuição é vedada pela regulamentação brasileira.
É necessário ver como o Banco Central do Brasil vai se adaptar a essa tendência de tokenização. Algo é certo: o terreno “está fértil”. Aguardemos “as cenas dos próximos capítulos”.
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Paulo David é fundador e CEO da Grafeno, fintech que oferece contas digitais e infraestrutura de registros eletrônicos para empresas e credores; é sócio do SPC Brasil na construção de infraestrutura para o mercado financeiro. Antes da Grafeno, fundou a Biva, primeira plataforma de empréstimos peer to peer do Brasil, que foi adquirida pela PagSeguro, empresa de meios de pagamentos. Foi superintendente do Sofisa Direto, a divisão digital do banco Sofisa; atuou na equipe do Pinheiro Neto Advogados, assim como na equipe da gestora de investimentos KPTL (ex-Inseed Investimentos). É investidor anjo em fintechs no Brasil e na Europa.
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