O plano de Donald Trump para convencer a Apple a fabricar o iPhone nos Estados Unidos não deu em nada, graças ao desinteresse da Foxconn. Segundo reportagem do site The Verge, a fábrica de telas LCD construída no estado de Wisconsin, que deveria criar 13 mil empregos, é usada apenas como um depósito e quase nada é produzido lá.
A promessa de Trump para o “iPhone Made in USA” vem desde a campanha eleitoral de 2016, e não importa o fato de que Tim Cook não está nem minimamente interessado em trazer a linha de produção para casa. As vantagens de usar a mão-de-obra chinesa vão desde o custo homem-hora do trabalhador chinês ser bem menor do que o americano, à cadeia logística de suprimentos estabelecida na Ásia, já devidamente azeitada.
Esses detalhes não intimidaram Trump, que pagou para ver (literalmente) a proposta do CEO da Foxconn Terry Gou, de estabelecer uma linha de montagem na América. Inicialmente, a empresa injetaria US$ 10 bilhões na construção de uma fábrica Mount Pleasant, no estado de Wisconsin, este tendo oferecido US$ 3 bilhões em subsídios, mais US$ 1 bilhão posteriormente.
As condições de elegibilidade para os benefícios consistiam no estabelecimento de uma unidade Gen 10,5, uma fábrica voltada à fabricação de telas LCD para TVs e dispositivos menores como celulares, especificamente iPhones, conforme o desejo de Trump. Tal unidade garantiria a criação de 13 mil postos de trabalho em Mount Pleasant, condição esta obrigatória, estabelecida pelo governo local.
Só que não demorou muito para os problemas aparecerem. Em verdade a Foxconn tinha ZERO interesse em montar uma fábrica nos EUA, e fez Trump de trouxa, mais de uma vez.
Ainda em 2018, surgiram informes de que a Foxconn não iria construir uma fábrica Gen 10,5, mas sim uma Gen 6, de menor porte e voltada apenas à fabricação de telas LCD para celulares. Embora a vontade de Trump ainda estivesse sendo atendida, a mudança entrava em desacordo com o governo de Wisconsin, pois reduziria o número de contratados para 5,2 mil.
Pouco depois a conversa mudou de novo, e a instalação seria na verdade um centro de Pesquisa e Desenvolvimento, que contaria com apenas 1.000 profissionais especializados, ao invés de contratar funcionários locais para serviços mais simples, como operação de maquinário. Aqui, a Foxconn buscaria talentos também de outros locais, e não apenas em Wisconsin.
Na época, o presidente dos EUA e Terry Gou teriam entrado em acordo após “discussões produtivas“, e a Foxconn novamente se comprometeu a construir uma fábrica, mas desta vez uma Gen 6 mesmo, mas garantindo os 13 mil empregos.
A fábrica foi construída e novamente, a Foxconn não cumpriu as promessas: a companhia contratou apenas 550 pessoas, sendo que destes, apenas 281 seguiam as normas estabelecidas pelo estado de Wisconsin, de um mínimo de 520 para garantir os subsídios, a até 2.800 postos. E mesmo assim, a companhia usou de malandragem para garantir o recebimento dos subsídios.
Segundo apurado pelo The Verge, os contratados pela Foxconn em 2019 consistiam de estudantes locais ou graduandos estrangeiros, que buscavam empregos para garantir seus vistos, e tão logo o período para receber os subsídios passou, a empresa demitiu a maioria deles. Sem falar que muitos sequer tinham algo para fazer.
Com o caldo desandando, a Wisconsin Economic Development Corporation (WEDC), companhia que supervisiona o contrato entre o estado e a Foxconn, negou a primeira rodada de subsídios à empresa, no valor de US$ 3 bilhões, por concluir que a promessa de construir uma fábrica Gen 10,5, conforme estabelecido em contrato (ignorando o que Trump e Gou acordaram) não foi cumprida.
Para concluir, Joel Brennan, secretário do Departamento de Administração de Wisconsin disse em entrevista que mesmo as especificações de uma fábrica Gen 6 não foram seguidas, e que a unidade construída no estado “não se parece com nenhuma outra fábrica Gen 6 em outros lugares do mundo”.
Isso porque a “fábrica” é falsa.
Segundo Brennan, a Foxconn não adquiriu maquinários para a produção de telas LCD, que deveriam ser produzidas na unidade, e mantém um pessoal mínimo, onde se houver alguma produção, seria apenas para montar os produtos na linha final.
Só que nem esse é o caso, e ao que tudo indica, a “fábrica” de Wisconsin não passa de um depósito.
Oficialmente a Foxconn não comenta os detalhes da operação, se limitando a dizer que a recusa em oferecer os subsídios “prejudica as negociações de boa fé” entre as partes, mas se há um culpado nessa história, este é o presidente Donald Trump.
Foi sua teimosia em querer uma fábrica de iPhones nos EUA a todo custo que criou essa pataquada, uma promessa que a Foxconn nitidamente não tinha o menor interesse em cumprir, mas manteve a farsa enquanto o presidente insistia em forçar a mão e costurar acordos de qualquer jeito. Agora os EUA tem uma fábrica de mentirinha e milhares de empregos prometidos não criados.
No mais, Trump sai da história como otário e mentiroso, por não cumprir uma promessa de campanha, além de que o iPhone continuará sendo fabricado na China, algo que não ia mudar de qualquer forma, porque a Apple não pretende mudar de ideia.
Procurada, a Foxconn não comentou o assunto.
Fonte: The Verge
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