A primeira coisa que vem à mente quando ouvimos Dontnod é Life is Strange. Hoje em dia, é difícil não associar. Não por menos, o queridinho da desenvolvedora se fez grande e colocou a empresa de vez entre os holofotes. Tanto que, por causa dos seus lançamentos e do estilo que a empresa seguiu, ficou difícil não conectar o criador com suas criações.
Depois do sucesso de público e crítica, acompanhamos o nascimento de algo próprio, marcado por narrativas bem contadas, escolhas morais e pitadas bem generosas de forças sobrenaturais. Foi assim com a história de Chloe e Max e seguiu por, pelo menos, 3 jogos narrativos com estrutura e formato bem parecidos entre si.
Agora, acompanhamos o lançamento de Twin Mirror, que chega com a reputação dos games narrativos anteriores, mas também com o fardo da fórmula, que foi mantida como uma receita, onde poucas coisas, a não ser a trama, mudavam.
Quando jogamos a preview de duas horas de Twin Mirror, foi possível perceber que a empresa quer explorar novas ideias e se distanciar um pouco do que já foi feito, porém, sem deixar de lado o caminho que percorreu com seu público. A pergunta que fica é: será que o game conseguiu propor essa ideia até o fim?
Acompanhe a review do Voxel sobre o mais novo lançamento da Dontnod e descubra com a gente.
A tentativa que deu certo
Vamos direto ao ponto: a Dontnod conseguiu fazer um jogo que funciona sozinho, com uma narrativa mais desgarrada das suas origens, mas com elementos suficientes para manter a conexão com seus fãs.
Essa parece ter sido a vontade da empresa desde que ela decidiu que Twin Mirror ia ser o seu primeiro jogo autopublicado. Todos os detalhes que vieram depois só ajudam a complementar a impressão que o jogo deixou.
Tanto que, eu esperava mais uma jornada episódica, que escancara as suas decisões a cada seção da história, mas o jogo é um, da chegada de Sam à cidade da infância até as cenas finais.
Como já havia mencionado na preview, as escolhas de roteiro iniciais já pareciam acertadas: protagonista mais maduro, trama investigativa e o gênero thriller psicológico já existiam desde o começo, preparando o terreno.
Essa ruptura com a fórmula, mesmo que superficial, foi suficiente para empolgar nas primeiras horas de jogo. A expectativa era se isso fazia de Twin Mirror um bom jogo, mesmo com a tentativa da Dontnod de reinventar alguns sistemas, o que acabou dando certo.
Bom, mas não bombom
A história cheia de acertos não é genial, talvez nem a mais surpreendente entre os jogos narrativos da Dontnod, mas foi bastante saborosa. Ela não deixa pontas soltas e não enrola demais, principalmente por ser mais curta.
Sam é um personagem antissocial, mas que consegue passar empatia, especialmente durante as interações com seu “gêmeo” e nos momentos em que revive memórias em seu palácio mental.
Ou seja, os poderes não são meras ferramentas para “passar de fase”, mas têm sua própria maneira de desenvolver a trama e o personagem, o que é muito interessante. Sem contar que eles são responsáveis por confrontar e até mesmo influenciar nas escolhas, se você não tiver cuidado.
Sam é mais maduro, mais inteligente e tão interessante quanto esperamos como um investigador. A análise dos objetos e cenários por meio dos poderes é uma dinâmica prazerosa — e bem simples — de acompanhar. Ao mesmo momento em que analisamos as possibilidades, conseguimos visualizar a cena e tirar conclusões.
Apesar de deixar você meio perdido, sem saber o que fazer em alguns momentos, andando pelo local sem rumo, observando dez vezes a mesma coisa, não frustra em nenhum momento.
Mesmo na tentativa de ser mais desenrolada (no bom sentido), a Dontnod ainda continua premiando os jogadores mais pacientes com detalhes e itens extras, mesmo em um jogo menor.
Sem pressa, você pode ir a fundo nos diálogos, desbloquear detalhes na agenda e, claro, jogar mais de uma vez para entender como suas escolhas afetaram a sequência da história.
Sobre isso, mesmo que o jogo não separe as escolhas fundamentais em capítulos, dá pra sentir que suas decisões fizeram a diferença. Não são escolhas morais mais difíceis do que a escolha final de Life is Strange, mas aproveitáveis.
Porém, o toque de mudança mais promissor veio a partir da segunda metade, quando você começa a experimentar mais da mente difusa, surrealista e assustadora de Higgs, trabalhada com elementos visualmente agradáveis, que dão uma sensação de clausura e medo.
São cenas curtas, assim como o próprio game, mas bastante promissoras, assim como seu protagonista, que é muito identificável.
E o veredito final?
A sensação que fica, depois de terminar Twin Mirror é de muita expectativa. Não há nenhuma revolução na fórmula, mas não dá pra negar que é um novo passo para a Dontnod.
Enquanto o jogo ia avançando, ficando mais intenso, principalmente na mente conturbada do jornalista, isso foi ficando mais claro. A história de Sam Higgs tinha potencial na preview e parece continuar tendo potencial depois de acabar.
Ao final, depois de momentos mais surreais, gráficos bonitos e algumas novidades, foi impossível não pensar em como eu jogaria uma continuação da história, um Twin Mirror 2, mais ambicioso, que não desse as costas para Sam Higgs, um dos melhores elementos da trama.
Chance de fazer um segundo jogo sempre existe. E poderia ser uma virada de chave para a desenvolvedora, que tocou a borda com Twin Mirror, mas poderia muito bem entrar de cabeça em uma revolução.
Porém, o maior dos problemas parece ser o preço, um pouco mais salgado para uma aventura tão curta, distanciando fãs e interessados que poderiam enxergar o mesmo potencial que eu tive a oportunidade de acompanhar.
Twin Mirror foi gentilmente cedido pela Dontnod para a realização dessa análise.
Twin Mirror ainda segue o padrão Dontnod de fazer jogos narrativos, com várias mecânicas conhecidas dos fãs, mesmo sem grandes inovações
Nota: 85
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