Um olho no open banking, outro no open finance

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Seguindo uma tendência global de modernização dos principais mercados de crédito, o Banco Central do Brasil (BC) criou uma série de diretrizes de inovação com a Agenda BC#, o que nos trouxe até o open banking. Estamos próximos da tão aguardada implementação de sua 3ª fase, prevista para o dia 29 deste mês. Mesmo que estejamos no meio desse processo, já podemos “dar uma espiada” no que vem pela frente: o open finance.

O open banking é um sistema financeiro aberto que permite aos clientes de produtos e serviços bancários compartilhar suas informações com mais de uma instituição — desde que seja autorizada pelo Banco Central do Brasil. O usuário conseguirá efetuar movimentação em diversas plataformas, não apenas nas do banco de sua conta.  

A evolução do open banking é o open finance, com um sistema financeiro aberto no qual o cliente decide a quem dará acesso dos seus dados de investimentos, fundos e seguros, determinando para que e por quanto tempo. 

Seja banking ou finance, a abertura de informações dentro do sistema bancário e financeiro é um curso natural, afinal, o Brasil tem um “campo fértil”, com um mercado financeiro extremamente desenvolvido (um baita orgulho!), ainda que sofra de questões como a concentração em apenas alguns players e a alta taxa de juros — algo que tende a melhorar com todas essas medidas do BC. 

O futuro já começou

Essa agenda começou mais precisamente com o Cadastro Positivo, algo que já existia em outros países e que trouxe um efeito muito positivo para bons pagadores. De lá para cá, uma série de ações abriram caminho para o open banking — se me permitem o trocadilho. 

Dentre elas tivemos o Pix, que foi muito bem recebido pelo brasileiro e já ultrapassou a marca de mais de 1 bilhão de transações até setembro de 2021, segundo o BC, com uma das adoções mais rápidas do planeta. 

Agora, estamos vivendo a era do open banking, que parte da simples premissa de que uma instituição financeira não detém os dados de seus clientes, pois essas informações pertencem a eles próprios.

O que tínhamos até então era um sistema engessado, no qual esses clientes não conseguiam acesso ao próprio histórico de movimentações bancárias. Essas instituições não fornecem mais do que 90 dias de extrato de conta, por exemplo. E “ai” de quem quisesse saber um pouco mais! Qualquer solicitação de dados mais aprofundados é um caminho complicado para o cliente. 

Com o open banking, haverá uma padronização e flexibilização para que todas as instituições sigam as mesmas regras e, assim, seus clientes tenham autonomia sobre seus próprios dados. Se desejar compartilhar, excluir, vender essas informações, ou até mesmo não fazer absolutamente nada disso… Ele pode.

“Um olho no peixe, e outro no gato”

E se o open banking significa uma revolução para o sistema bancário, o open finance será o futuro das finanças, com um mercado mais aberto e seguro. Dessa forma, a infraestrutura digital do sistema financeiro aberto trará aos consumidores um mercado mais amplo e competitivo, uma vez que o compartilhamento de dados pessoais e transacionais fará as instituições terem que se garantir em seus serviços se quiserem manter ou conquistar novos clientes.

E é aí que o open finance entra como uma evolução: com implementação prevista para 15 de dezembro de 2021 (iniciada com a ampliação de operadores de dados), ele tem os mesmos princípios dos bancos abertos.  Com isso, o compartilhamento de dados financeiros acarretará uma oferta de mais instituições financeiras.

Lá em 2015, tive a oportunidade de não só ver o movimento das fintechs, mas de participar ativamente dele. Vê-lo “nascer e florescer”, diga-se de passagem. Seguindo o fluxo mundial, o Banco Central do Brasil, como regulador, ditou as regras e deu espaço para o novo chegar. Por isso, hoje temos tantas fintechs. Foi o match perfeito!

Sejam os próprios bancos, sejam as fintechs, sejam os Fundos de Direito Creditórios (Fidcs), com a regulação dessa tecnologia, o mercado privado se posicionará ainda mais como player relevante, gerando competição. A expectativa é que, com mais informações na praça, mais iniciativas se sentirão confortáveis para abrir contas, conceder empréstimos, financiar operações e, não só baratear juros e taxas, mas aumentar linhas de crédito.

Um exemplo que podemos usar é o de pequenas e médias empresas que têm uma agenda de recebíveis, como boletos que serão pagos a prazo ou de cartões de crédito operados por pessoas físicas. 

Essas empresas podem bater na porta de diversos players (bancos, fintechs e Fidcs etc.), oferecendo essa agenda em troca de crédito mais barato, verificando quem dá as melhores condições. Ainda que esses recebíveis tenham sido emitidos por um banco específico, elas estarão livres para oferecê-los e com certeza encontrarão taxas mais vantajosas.

Na maioria esmagadora das vezes, é preciso mais crédito, e ninguém empresta dinheiro para quem não conhece. Com o histórico em mãos, o mercado conhece a vida financeira de pessoas físicas e jurídicas. Assim, novos fundos podem oferecer mais e melhor.

Mal posso esperar por esse futuro, e você?

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Paulo David é fundador e CEO da Grafeno, fintech que oferece contas digitais e infraestrutura de registros eletrônicos para empresas e credores; além disso, é sócio do SPC Brasil na construção de infraestrutura para o mercado financeiro. Antes da Grafeno, fundou a Biva, primeira plataforma de empréstimos peer to peer do Brasil, que foi adquirida pela PagSeguro, empresa de meios de pagamentos. Ele foi superintendente do Sofisa Direto, a divisão digital do banco Sofisa e atuou na equipe do Pinheiro Neto Advogados, bem como na equipe da gestora de investimentos KPTL (ex-Inseed Investimentos). É investidor anjo em fintechs no Brasil e na Europa.

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