Não, o V-Mail não é parente do G-Mail, eles mal se conhecem. Na verdade ele foi uma solução genial criada durante a Segunda Guerra Mundial pela Kodak para resolver vários problemas envolvendo envio de correspondência.
Uma carta (pergunte a seus pais) sozinha não pesa muito, mas quando a correspondência começa a acumular, você acaba com sacas e mais sacas de cartas, coisa que é muito pesada e ocupa um volume considerável.
Volume esse que em tempo de guerra precisava ser usado para transportar cargas mais importantes, como armas, veículos, peças de reposição e cerveja.
O segundo problema é que mesmo passando por censores oficiais, a correspondência entre os EUA e a Europa era cheia de mensagens de espiões. Muitas usavam uma técnica chamada “microponto”, aonde uma imagem, geralmente de várias páginas de texto é reduzida fotograficamente a um ponto de um milímetro, que é colado em alguma parte da carta, passando despercebido da maioria dos censores.
Sim, durante a Segunda Guerra toda correspondência, mesmo cartas pessoais era inspecionada. Só a Inglaterra tinha 10 mil pessoas abrindo lendo e censurando cartas. O objetivo era evitar que informações caíssem na mão do inimigo, como relatos de efeitos de bombardeios e escassez de produtos e matéria-prima.
Além dos micropontos outras técnicas, como tinta invisível também eram usadas, mas o V-Mail era imune a todas elas, mas mesmo assim o problema principal ainda era peso. A correspondência prioritária era enviada de avião, e o espaço era precioso. Como otimizar a quantidade de mensagens enviadas sem passar por todo o esforço necessário para inventar a Internet em 1939?
A solução, originalmente chamada Airgraph, foi criada por um esforço conjunto entre a PanAm, a Imperial Airways, e a Kodak, e embora complicada do ponto de vista de hoje, era genialmente simples:
Ao invés de recolher um monte de cartas, e colocar as sacas na prensa do cara do Canal da Prensa Hidráulica, foram criados uns formulários aonde a pessoa escrevia sua carta, manuscrita, totalmente pessoal.
Esse formulário de tamanho padronizado tinha o nome e endereço do destinatário e remetente, então a mensagem inteira era autocontida.
A carta era então encaminhada para os censores, que liam o texto, removiam as partes sensíveis e passavam para a próxima fase: Cada carta era então fotografada em um filme de 16mm.
Ao invés de uma folha de papel, envelope, selo, cuspe, etc, a carta agora era um único fotograma em um rolo de filme. Até 5000 delas cabiam em um simples carretel.
1,1 toneladas de cartas convertidas para filme viravam 20Kg. A redução em volume também era brutal, 37 sacas de correspondência depois de microfilmadas eram reduzidas a uma única saca.
Os ingleses usaram o Airgraph para trocar mensagens com Canadá, África, Burma, Índia, Austrália e vários outros lugares. Os americanos adotaram o formato para o correio militar, principalmente mensagens entre os soldados e seus familiares. De forma bem patriótica, foi batizado de V-Mail, V de Victory, claro.
O benefício secundário é que os micropontos não sobreviviam ao processo de fotografia, e a tinta invisível também não era transferida. E como a foto impressa com a carta tinha só 60% do tamanho do formulário original, ainda havia uma expressiva economia de papel.
Com o fim da guerra o serviço do V-Mail caiu em desuso, além de ser bem demorado, ainda havia o problema da privacidade, a maioria das pessoas não gostava de ter sua correspondência pessoal aberta e inspecionada, e isso era tolerado em casos raros, tipo “Hitler quer matar todo mundo”. No dia-a -dia, não.
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