O câncer de mama é o mais letal e comum entre os que atingem mulheres do mundo: a cada ano, dois milhões de mulheres (e 200 mil homens) desenvolvem a doença, matando pelo menos 25% de suas vítimas. Pesquisadores do Instituto Wyss de Engenharia Biologicamente Inspirada, ligada à Universidade de Harvard, anunciaram agora ter conseguido 100% de eficácia em testes in vivo de uma vacina para um dos tipos mais agressivos de câncer de mama.
O chamado triplo-negativo (15% de todos os casos de câncer de mama identificados) deve nome à ausência de três receptores hormonais. Eles são difíceis de tratar e, para os mais agressivos, não existem tratamentos específicos.
O câncer de mama é uma das doenças que mais mata mulheres no mundo.Fonte: Health Management/Reprodução
Se a doença for localizada, a mastectomia é recomendada; se não for, são dois os tratamentos: quimioterapia e imunoterapia. Enquanto a primeira mata tanto as células cancerosas como as saudáveis e não evita a metástase do tumor ou a volta da doença (recidiva), a segunda, acionando o sistema imunológico, muitas vezes não consegue eliminar o tumor (mas, quando consegue, evita a recidiva).
Os pesquisadores do Instituto Wyss combinaram os dois tratamentos, levando o combate onde o inimigo está: um biomaterial, injetado nas proximidades do tumor, é o veículo de uma terapia com o poder de matar o câncer e impedir que ele volte.
Duas em uma
“A imunoterapia atrai células imunológicas para o tumor, enquanto a quimioterapia produz fragmentos de células cancerosas mortas; as células imunológicas então as recolhem e as usam para gerar uma resposta eficaz e específica contra o tumor”, disse o pesquisador Hua Wang, principal autor do estudo publicado agora na Nature Communications.
O processo surgiu em 2009 como terapia promissora para diversos tipos de câncer em testes in vivo (foi explorada em ensaios clínicos, ou seja, com voluntários, no tratamento de melanoma).
Nesta formulação, moléculas de células cancerosas (antígenos associados ao câncer, ou TAAs) são inseridas perto do tumor. Ao serem identificadas como corpos estranhos pelos leucócitos (células de defesa do organismo), uma resposta do sistema imunológico é acionada e direcionada contra o tumor.
Os linfócitos (em amarelo) usam antígenos do tumor para desencadear uma resposta do sistema imunológico contra ele.Fonte: Wyss Institute at Harvard University/Divulgação
As células cancerosas usadas nesse processo podem ser isoladas e replicadas para se obter uma vacina personalizada – o problema é ser caro e muito demorado. “Hoje, temos apenas uma biblioteca muito pequena de antígenos conhecidos para algumas linhas de células tumorais específicas, e é difícil prever qual deles poderá acionar uma resposta imunológica eficaz”, explicou um dos autores do estudo, o biólogo Alex Najib.
Ataque triplo
Usando uma biomolécula conhecida por penetrar em tumores (o peptídeo RGD), os pesquisares adicionaram a ela duas substâncias: uma para estimular o desenvolvimento e a concentração de linfócitos e outra, uma droga usada em quimioterapia.
Os tumores TNBC dos quatro camundongos que receberam a vacina diminuíram, e por isso a equipe adicionou um terceiro componente: uma sequência de DNA bacteriano sintético para aumentar a resposta imunológica.
Os tumores dos camundongos que receberam as vacinas cresceram muito mais lentamente e os animais viveram mais, em comparação com os que receberam o tratamento incompleto ou não foram vacinados.
Faltava saber se a vacina poderia prevenir a recidiva. Depois de terem os tumores removidos cirurgicamente, os camundongos receberam uma injeção de células cancerosas e, surpreendentemente, todos sobreviveram sem metástase, enquanto os camundongos não tratados sucumbiram à doença.
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