A Viasat é uma das poucas empresas que prestam serviço de conectividade via satélite para consumidor final, com acesso global, eles atendem principalmente o mercado fora dos grandes centros. Agora eles estão sendo ameaçados pela Starlink, e apelaram para o tapetão.
Apesar de superficialmente as duas empresas venderem o mesmo serviço, na prática o produto oferecido é completamente diferente, e a Viasat tem zero chance de sobreviver em um mercado aonde existe uma Starlink. Não, não é fanboysmo, torcida, é apenas… física. Quem não gostou, que reclame com o Papa, ou melhor, com Einstein.
Como Albert Einstein não estava disponível, a Viasat foi bater na porta do FCC, a ANATEL dos EUA, pedindo para que a agência revertesse uma modificação na licença da SpaceX.
A SpaceX tem autorização para lançar 12 mil satélites Starlink, e o FCC já está operacionalizando as permissões internacionais para mais 30 mil satélites. No momento eles tem 1578 satélites operando entre 550 e 570Km de altitude. Em Abril o FCC autorizou a transferência de 2800 satélites que seriam lançados em órbitas mais altas para esse mesmo plano, de 550Km.
Isso significará mais cobertura, menos momentos de sombra, no qual não há nenhum satélite ao alcance da antena, e maior velocidade, além de menos latência. A Viasat, claro, subiu nas tamancas.
O que, aliás, não é de hoje. Toda autorização do FCC à SpaceX é contestada, inclusive o lançamento de 10 satélites em órbita polar, que a Viasat insanamente alegou que poderiam interferir com seus satélites em órbita geoestacionária, a 35000Km de distância.
Esse, aliás, é o problema. Em teoria a Viasat, a Hughes e outras empresas teriam vantagem por já estarem no mercado, enquanto a Starlink é novata, mas o serviço deles tem uma desvantagem mortal: Eles usam poucos satélites, às vezes um só, posicionado na órbita geoestacionária, um anel a 35786Km de altitude no qual um satélite leva 24 horas para dar a volta no planeta.
Só que como a Terra gira (ou tem conspiração disso também?) em 24 horas (não exatamente, mas isso é coisa do Neil Degrasse Tyson) o satélite fica “parado” sob o mesmo ponto, do mesmo jeito que um balde preso a uma corda fica parado em relação a você, quando você o gira.
A desvantagem é que com essa distância o sinal demora, por causa de Einstein a velocidade da luz é limitada, e um sinal leva 119.4ms para subir, e 119.4ms para descer. Ou seja: Sem NENHUM processamento em nenhuma das pontas, na melhor condição possível e imaginável, em linha reta um sinal enviado a um satélite da Viasat teria um tempo de trânsito de 238.8ms. Na prática é comum pings de 600ms, 6 décimos de segundo, o que torna inviável jogos online, videoconferências e qualquer aplicação que exija agilidade na resposta.
Os satélites da Starlink atualmente estão a 550Km de altitude, se comunicando com estações terrestres igualmente próximas da casa dos clientes. Em breve eles se comunicarão entre si usando lasers, criando uma grande rede integrada.
No atual programa beta o Starlink promete conexões entre 50Mbps e 150Mbps e latência entre 20ms e 40ms. Os usuários estão reportando velocidades mais altas constantemente, mesmo no Beta que se chama “melhor que nada”.
O YouTube está cheio de usuários maravilhados com o Starlink, todos eles com histórias de terror de serviços alternativos em áreas rurais, presos a provedores por rádio ou via satélite, com preços e performances horrorosos.
Lembre-se, o Starlink, Viasat e outras soluções via satélite são para uso fora dos grandes centros, em zonas rurais, países sem infraestrutura de conexão, fazendas, ilhas no meio do oceano, navios, futuramente aviões e zonas remotas, tipo Niterói. Nenhum deles se propõe a ser o seu provedor do dia-a-dia no Leblon ou nos Jardins, o custo não fecha.
Nos EUA o Starlink por enquanto custa US$500 pelo kit de instalação, com uma mensalidade de US$100,00 com acesso ilimitado. A concorrência tem um monte de pacotes complicados com horas de streaming, franquia de dados, etc. Aqui os custos da Viasat orçados para o Rio de Janeiro:
A Viasat não tem como competir com os valores e performance da SpaceX/Starlink, então pediu para o FCC suspender a autorização para o posicionamento de satélites adicionais, até a Corte de Apelações dos Estados Unidos para o Distrito de Colúmbia julgar o caso.
No documento a Viasat atira para todos os lados, alega que o FCC não fez um estudo de impacto ambiental (coisa que legalmente ele não tem que fazer), que os satélites prejudicam astronomia, que podem afetar o clima terrestre (sério) e até alegam riscos pela grande quantidade de satélites que irão eventualmente reentrar na atmosfera terrestre.
Isso lembra muito os fabricantes de cavalos alertando para os riscos dos automóveis, ou “cientistas” ingleses contratados pela indústria de carruagens escrevendo estudos demonstrando que acima de 60km/h o ar seria sugado de dentro dos vagões e os passageiros iriam morrer sufocados.
A Viasat deu ao FCC até 1º de Julho para revogar a autorização da SpaceX, ou irá pedir uma liminar à Corte de Apelações.
A SpaceX não se manifestou ainda, Elon Musk está igualmente calado. Deve estar rindo, mesmo ele, que adora enfiar o pé na boca sabe que não se compra briga com o FCC. Agora é pegar a pipoca e ver como o FCC reage a ameaças.
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