O Windows 10X deveria ser uma versão do SO da Microsoft voltada a laptops de entrada e intermediários, ou dispositivos de duas telas, mirando especificamente no Google Chrome OS e a linha Chromebook. “Deveria”, porque ao que tudo indica, o produto foi cancelado antes mesmo de dar as caras.
A estratégia de oferecer um mesmo sistema para vários dispositivos, importando vícios embarcados do Windows, contrasta com a decisão da Apple em negar veementemente a possibilidade de um dia fundir o macOS aos seus sistemas móveis, em especial o iPadOS.
A Microsoft nunca explicou o que o Windows 10X viria a ser, mas a princípio ele deveria ser voltado à execução em dispositivos de duas telas, como o Surface Neo, em que ele deveria ser introduzido. O sistema operacional rodaria apenas apps UWP (Universal Windows Platform), os distribuídos pela Microsoft Store, mas eventualmente receberia uma atualização que adicionaria o suporte a programas Win32/x86 tradicionais.
De resto, o software vinha sendo planejado para ser uma versão mais simples e leve do Windows 10, mirando o mercado de dispositivos de baixo custo, em que a linha Chromebook se destaca, principalmente por hoje em dia suportar a instalação de apps e jogos do Android, via Google Play Store.
O Surface Neo poderia ser usado de dois modos, sendo um com suporte a teclado e mouse físicos, e outro como um laptop comum, com a segunda tela habilitando teclado e trackpad virtuais, teclado de emojis, atalhos para vídeos e fotos, menus de contexto e etc, de forma similar à Touch Bar do MacBook Pro.
O Windows 10X teria passado por uma série de ajustes por parte da Microsoft, o que vinha atrasando o lançamento do Surface Neo cada vez mais. Agora, segundo um relatório do site Petri publicado na última sexta-feira (7), a companhia teria decidido por matar a versão do SO de uma vez, passando algumas de suas características, como um Menu Iniciar remodelado e modificações no Explorador de Arquivos, para a atualização Sun Valley (21H2) do Windows 10, que deverá ser lançada até o fim de 2021.
O Surface Neo, por sua vez, deverá ser lançado com o Windows 10 mesmo, ou mais provável, ser cancelado em definitivo.
Esta não é a primeira vez que a Microsoft tenta “resumir” o Windows para implementar o sistema em outros dispositivos. A lista inclui o Windows Phone ao Windows 10 Mobile, sistemas para dispositivos móveis que sofreram com uma estratégia desastrada de atualizações, e também o Windows RT, voltado para computadores com processadores ARM, como o Surface RT. Este desagradou o público por não suportar apps x86, apenas os da Microsoft Store.
O que a Microsoft nunca entendeu, é que consumidores de computadores esperam que o Windows, independente da versão, sempre rode apps tradicionais, ao invés de depender apenas dos distribuídos pela loja digital, e dessa forma, a estratégia de limar os softwares x86 foi muito mal recebida.
A empresa continua com planos de manter a compatibilidade do Windows 10 com dispositivos ARM, dada a parceria com a Qualcomm, mas muito provavelmente, a compatibilidade com apps x86 não vai ser jogada fora tão cedo por mais que tentem, simplesmente porque o consumidor sabe o que esperar de um Windows.
A associação por parte do público levou o Google a implementar o Chrome OS em computadores de entrada, mesmo podendo ter usado o Android para isso desde o início, de modo a dar o recado de que “uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa”. A compatibilidade implementada inicialmente com o Linux, e posteriormente com a Play Store, se deu para resolver os problemas de falta de apps que o sistema carecia.
A Apple, por sua vez, mantém a estratégia do Jardim Murado mesmo entre seus dispositivos. De um lado há o iOS, iPadOS e tvOS, sistemas respectivamente do iPhone, iPad (apenas modelos mais recentes) e Apple TV, que compartilham da maioria dos apps, salvo raras exceções. Do outro há o macOS, que só recentemente se tornou capaz de executar apps móveis, ainda que com restrições.
O contrário não se aplica, apps de macOS não são compatíveis com os demais gadgets, e ninguém em sã consciência questiona tal decisão, porque a Apple sempre deixou claro que cada caso de uso é separado. Reclamações dos usuários que gostariam que o iPad passasse a rodar o macOS foram completamente ignoradas, mesmo com o tablet hoje, especialmente a linha iPad Pro, se aproximando muito dos MacBooks.
Há de levar em conta também a percepção dos usuários, o que implica diretamente na escolha dos nomes para os sistemas. A Microsoft nunca conseguiu acertar completamente por conta do nome “Windows”, que carrega toda a experiência de uso da versão para desktops, em que todo mundo espera que as demais versões se comportem como tal, independente se rodando em notebooks ARM ou tablets.
A Apple não se deu ao trabalho de cultivar tais expectativas, ao invés disso, tratou de incutir a ideia da segmentação completa, em que o consumidor decide qual produto é o mais adequado para sua realidade de uso, e deverá a partir dali lidar com sua escolha.
De forma resumida, todo mundo espera que o Windows seja sempre um pato, que nada, voa e anda, e muitas vezes não alcança a excelência em nenhum dos aspectos, mas que funciona de forma satisfatória e atende às expectativas. Os problemas começaram quando Redmond decidiu portar o pato com funções a menos para outras plataformas, algo que a Apple sempre soube ser uma roubada.
Fonte: ExtremeTech
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