Magnetização da crosta da Lua é o que resta de seu dínamo central

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Há quatro bilhões de anos, a Lua tinha um campo magnético duas vezes mais forte que é o da Terra hoje. Como ela foi capaz de gerar uma magnetosfera tão forte tendo um núcleo tão pequeno é um mistério ainda não solucionado, mas uma pesquisa agora publicada aponta um ancestral dínamo central como a causa da magnetização da crosta da Lua.

A Lua já produziu uma magnetosfera mais intensa que a da Terra atual.A Lua já produziu uma magnetosfera mais intensa que a da Terra atual.Fonte:  HC Cañellas/Reprodução 

“Existem duas hipóteses antigas: uma é que a magnetização da crosta da Lua é resultado de um dínamo antigo no núcleo lunar; a outra, que ela é o resultado de uma amplificação do campo magnético interplanetário, aumentado pelo impacto de meteoroides”, disse uma das autoras do estudo, a física e cientista planetária Katarina Miljkovic, da Curtin University.

Dínamo central

A equipe de Miljkovic trabalhou com estimativas numéricas dos impactos do bombardeio de um grande meteoroide na Lua há cerca de quatro bilhões de anos.

Segundo a cientista planetária, a pesquisa “é um estudo numérico profundo que põe por terra a teoria sobre os meteoroides. Descobrimos que o plasma gerado pelo impacto desses corpos interage muito mais fracamente com a Lua em comparação com os níveis de magnetização obtidos da crosta lunar. Essa descoberta nos leva a concluir que um dínamo central é a única fonte plausível de magnetização da crosta lunar.”

A cientista planetária explica que “meteoroides atingiram velozmente a Lua, causando deslocamento, derretimento e vaporização da crosta lunar. Calculamos a massa e a energia térmica geradas por esses choques, e o resultado foi usado para investigarmos como o campo magnético ambiente na Lua se comportou depois desses grandes impactos, o que desmente a hipótese mais antiga”.

Meteoroides não são os responsáveis pela crosta da Lua ser magnetizada (em primeiro plano, a grande cratera Goclenius).Meteoroides não são os responsáveis pela crosta da Lua ser magnetizada (em primeiro plano, a grande cratera Goclenius).Fonte:  NASA/JSC/Apollo 8 Crew 

As simulações de impacto e do comportamento do plasma da Lua permitiram à equipe reproduzir os mecanismos de evolução da Lua há muito propostos. Descartar hipóteses pode simplificar o processo para determinar o que magnetizou a Lua e até mesmo outros objetos no sistema solar que também têm crostas magnetizadas – cujas causas ainda são inexplicáveis.

“Além da Lua, Mercúrio e outros pequenos corpos planetários têm uma crosta magnética. Talvez outros dínamos equivalentes ao da Lua também pudessem estar agindo nesses objetos”, disse a física e cientista computacional do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) Rona Oran, principal pesquisadora do trabalho, publicado pela Science Advances.

Metais e ferrugem

Há anos se sabe que a Lua já teve um campo magnético maior até do que o da Terra, mas não as razões de ele ter desaparecido, há um bilhão de anos. Em janeiro, pesquisadores do MIT determinaram possíveis causas.

A Lua já esteve muito mais perto da Terra, e a força gravitacional do planeta teria agitado o núcleo líquido do satélite, criando o dínamo que geraria seu campo magnético. Com o distanciamento entre planeta e satélite, o efeito da gravidade se enfraqueceu, o dínamo perdeu sua força e o núcleo da Lua cristalizou. O processo extinguiu o campo magnético lunar.

O distanciamento progressivo entre Terra e Lua levou ao resfriamento e cristalização do núcleo lunar.O distanciamento progressivo entre Terra e Lua levou ao resfriamento e cristalização do núcleo lunar.Fonte:  HC Cañellas/Reprodução 

Pesquisadores da NASA ainda descobriram evidências de que a superfície da Lua é mais rica em metais do que se pensava, e que ela contém hematita, uma forma de ferrugem que normalmente requer oxigênio e água – elementos em falta no satélite.

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