A fantasia de Hyrule: The Legend of Zelda completa 35 anos!

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Ele provavelmente não fazia ideia disso, mas 1984 foi um ano que mudaria não só a vida de Shigeru Miyamoto, mas toda a indústria de videogames. Foi nele que o game designer deu início a dois projetos, sendo que em um controlaríamos um encanador por estágios lineares; enquanto no outro teríamos que assumir o papel de um garoto que se aventurava por um vasto mundo aberto. Porém, o conceito que daria origem a o que ficaria conhecido como The Legend of Zelda nasceu muito antes, quando o game designer ainda era uma criança.

The Legend of Zelda

Crédito: Reprodução/Nintendo

Nascido na cidade de Sonobe e sem ter uma televisão em casa, uma das atividades preferidas do pequeno Miyamoto era explorar a região onde morava e ao fazer isso sem a utilização de um mapa, ele se sentia como um verdadeiro desbravador. Em entrevista ele já citou a sua surpresa quando encontrou um lago enquanto fazia uma caminhada, mas aquilo que o marcaria para sempre foi a entrada de uma caverna.

Fascinando pelo lugar, ele queria saber o que existia lá dentro, mas a coragem para seguir adiante não veio imediatamente. Além disso, seria preciso alguma fonte de luz para que pudesse enxergar melhor o caminho e só após voltar para casa ele conseguiu uma lanterna que poderia lhe ajudar. Pois foi enquanto explorava aquela caverna que o menino se deu conta da façanha que tinha alcançado: tratava-se de uma descoberta sua, pois ao menos na sua cabeça ninguém sabia que aquele lugar existia e quanto mais ele avançava, maior era o sentimento de ser um explorador.

Os anos se passaram, Shigeru Miyamoto se tornou um adulto, mas a ludicidade nunca o deixou. Então, quando foi trabalhar para a Nintendo e recebeu a missão de comandar equipes que deveria criar jogos originais e inventivos, o game designer decidiu levar para as telas algumas das experiências que teve enquanto era uma criança. Contudo, uma aventura tão ambiciosa quanto a que ele imaginava não poderia ser concluída em um dia e é aí que entra uma novidade que a sua companhia estava trazendo para o mercado, o Famicom Disk System.

Funcionando acoplado ao Nintendinho japonês, o periférico traria várias melhorias para o console, entre elas a possibilidade de salvarmos o nosso progresso e assim continuarmos posteriormente de onde paramos. A Nintendo por sua vez sabia que seria preciso jogos maiores para ajudar a vender o aparelho, títulos que não pudessem ser concluído numa única sessão e assim surgiu a oportunidade para que parte da infância de Miyamoto fosse transformada em um game.

Dividindo a direção com Takashi Tezuka, que também ficaria responsável pela história e pelo roteiro, a dupla seria creditada no jogo como S. Miyahon e Ten Ten, respectivamente, começando a trabalhar num jogo que seria muito diferente de tudo o que existia na época. Sem a linearidade típica dos jogos de plataforma, seria preciso garantir que o jogador não ficasse perdido e a solução encontrada por eles foi brilhante.

Nasce a lenda de Zelda

Crédito: Reprodução/Nintendo

Em The Legend of Zelda somos apresentados a um terrível mal que paira sobre Hyrule. Conhecido como Ganon, o vilão está a procura de três Triforce, artefatos que lhe garantirão uma força imensa. Após saber que ele conseguiu achar a Triforce do Poder, a Princesa Zelda chega à conclusão de que a única solução para afastar o monstro do seu objetivo é destruir a Triforce da Sabedoria e assim a divide em oito pedaços. Indignado com a atitude, Ganon sequestra Zelda e caberá a um jovem comum assumir o papel de salvador.

O problema é que o garoto chamado Link começa sua jornada sem nada, nem mesmo uma arma e para ensinar os jogadores o que fazer, a aventura começa com o protagonista em frente a uma caverna — o que não é uma coincidência. Será nela que aprenderemos algumas mecânicas do jogo, com o lugar funcionando como um tutorial disfarçado e lá dentro receberemos a primeira recompensa pela nossa coragem, uma espada.

A partir daí teremos que encarar oito calabouços para, após derrotarmos cada um dos seus guardiões, recuperarmos um fragmento da Triforce. Com o artefato completo então seremos capazes de invadir o covil de Ganon e, se conseguirmos derrotar o Príncipe da Escuridão, resgatar a Princesa e fazer com que a paz retorne à Hyrule. É o típico monomito que vem sendo contado há milhares de anos, mas algo muito mais elaborado do que as pessoas estavam acostumadas a ver num videogame.

Eu queria criar um jogo onde o jogador pudesse experimentar o sentimento de exploração conforme viajasse pelo mundo, familiarizando-se com a história do lugar e do mundo natural que ele habita,” disse Miyamoto em uma entrevista. “Isso é refletido no título: ‘The Legend of ____’.

Os jogos de aventura e RPGs são jogos em que você avança pela história através de diálogos apenas, mas queríamos que os jogadores experimentassem a sensação física de usar um controle e mover o personagem através do mundo. Queríamos que os calabouços fossem exploráveis com um sistema simples de mapeamento. Essas e outras ideias semelhantes eram o que queríamos experimentar em Zelda. Estes temas também foram levados para o The Legend of Zelda: A Link to the Past.

Segundo Shigeru Miyamoto, o nome do protagonista foi escolhido para indicar que ele seria o elo de ligação entre o jogador e aquele mundo virtual que sua equipe estava criando. Ele também se encaixava na ideia inicial do jogo, que contaria com alguns elementos de tecnologia, como a Triforce ser feita de circuitos eletrônicos e a história falar sobre viagem no tempo, conceitos estes que depois foram deixados de lado. Já a princesa foi batizada em homenagem a esposa do escritor F. Scott Fitzgerald, uma mulher que o game designer considerava muito bonita e cujo nome lhe agradava sonoramente.

A genialidade de Kondo

Porém, ainda faltava uma peça muito importante para fazer com que o projeto se tornasse ainda melhor. Um sujeito cujo nome nos créditos apareceria como Konchan e depois viria a se tornar uma das maiores lendas da indústria, o Sr. Koji Kondo.

Responsável pelo trilha sonora que embalaria a aventura, inicialmente a ideia era utilizar o Bolero de Ravel como tema, mas o fato de os direitos autorais ainda não terem expirado o levou a compor as cinco músicas presentes no primeiro The Legend of Zelda. Um detalhe curioso é que o famoso tema que pode ser ouvido enquanto exploramos Hyrule foi composto em apenas um dia, tornando-se uma mas músicas mais famosas da história dos jogos eletrônicos.

Já para a compositora Eimear Noone, que comandou algumas edições do Video Games Lives e trabalhou num disco dedicado aos 25 anos da franquia, “a verdadeira força de Koji Kondo está em criar esses incríveis, memoráveis e evocativos temas que grudam na sua mente, no seu coração e ficarão lá para sempre.” Além disso, ela compara a habilidade de Kondo de se livrar de “coisas gratuitas” a habilidade de Beethoven de pegar músicas complexas e reduzi-las apenas às partes essenciais.

O início de uma jornada sem fim

Então, com todas as partes juntas, no dia 21 de fevereiro de 1986 a Nintendo colocava nas lojas, junto com o Famicom Disk System, o jogo que no Japão recebeu o nome The Hyrule Fantasy: The Legend of Zelda. Fazendo uso das vantagens do periférico, ele dispensava a utilização de passwords e permitia que o canal extra de som fosse aproveitado para gerar alguns efeitos sonoros, como os grunhidos dos monstros ou som do golpe desferido pela espada do Link quando sua energia estava cheia. Outro recurso interessante era o microfone presente no controle daquele aparelho, já que ele era utilizado para atacarmos alguns monstros ao assoprarmos ou gritarmos com eles.

Tudo isso fez com que o título se tornasse um tremendo sucesso, sendo o primeiro jogo do Nintendinho a ultrapassar a marca de um milhão de cópias vendidas. Restava trazer a aventura de Link para os Estados Unidos, mas para isso a Nintendo teria que enfrentar um sério problema: não existia planos de lançar o Famicom Disk System deste lado do mundo.

Crédito: Reprodução/Nintendo

A única saída seria adaptar o título para cartuchos (o periférico japonês utilizava um tipo de disquete proprietário) e para isso eles tiveram que adicionar um chip especial que permitiria jogos com uma quantidade de dados muito maior do que os vistos até então. Além disso, uma RAM abastecida por uma bateria possibilitava o salvamento do progresso, fazendo dele o primeiro jogo em cartucho a contar com este recurso.

Para ajudar na divulgação das novidades, a Nintendo inteligentemente desenvolveu uma embalagem que deixava à mostra uma parte do cartucho, que por sua vez era pintado de dourado e o resultado foi que em 1988 dois milhões de cópias do The Legend of Zelda já haviam sido vendidas. De quebra, o jogo ainda ajudou a empresa a aumentar o número de assinantes do seu Fun Club (precursor da Nintendo Power), pois que sem acesso a internet os jogadores recorriam a publicação para saber como solucionar quebra-cabeças ou descobrir segredos do game.

De lá para cá, a franquia rendeu outros 18 jogos e conquistou milhões de admiradores em todo o mundo. Hoje é difícil encontrar alguém que goste de videogames e que não conheça The Legend of Zelda, e pensar que tudo começou com um menino explorando os arredores da sua casa.

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