Roupa de astronauta é de pano, metal, Mithril? Como aquele simples traje mantém um astronauta vivo no espaço? As respostas são fascinantes, mas como a NASA chegou até elas é uma verdadeira jornada!
Astronautas usam vários tipo de roupa, embora o shortinho de Lycra da Sandra Bullock não seja muito incentivado, mas a roupa de astronauta pode ser uma simples bermuda e camiseta, a algo tão elaborado que é literalmente uma mini-nave espacial.
No dia-a-dia na Estação Espacial Internacional os astronautas usam roupas comuns, iguais as que você está vestindo neste momento (a não ser que leia o MeioBit pelado, seu pervertido). Então vamos focar nos dois outros tipos de roupas espaciais:
1 – Os trajes de vôo
As primeiras viagens espaciais não foram muito diferentes dos testes com aviões-foguete de grande altitude. Alan Sheppard fez um vôo parabólico com apogeu de 180Km, o X-15 atingiu 108Km e tecnicamente classificou o piloto como astronauta.
Esse traje de vôo de grande altitude mantém a pressão atmosférica em níveis suportáveis, sendo conectado a sistemas de suporte de vida externos, e no caso do Navy Mark IV dos Estados Unidos, foi derivado de um traje de vôo para aviões de grande altitude.
O traje, construído pela Goodrich Corporation foi modificado pois como a cápsula Mercury era pressurizada, não era necessário manter o traje inflado o tempo todo. Ao contrário dos pilotos de aviões, a entrada de ar não era feita via máscara, mas por um conector perto da cintura. Elásticos mantinham o traje apertado, caso fosse necessário inflá-lo.
Os sistemas de suporte de vida primário e secundário ficavam na nave, e o resfriamento do traje era feito pelo próprio oxigênio, subindo da cintura para a cabeça do astronauta. Refeições de repolho ou batata-doce antes do vôo não eram recomendadas.
Cada astronauta do Projeto Mercury tinha três trajes, um de treino, um de vôo e um reserva. No total os três custavam US$171 mil em valores de 2019.
Em todos os seis lançamentos o sistema de pressurização da cápsula funcionou perfeitamente e os astronautas puderam trabalhar normalmente, com os visores abertos, sem precisar pressurizar os trajes.
Os Russos
Yuri Gagarin voou usando uma versão mais simples de traje espacial, o SK-1, de Skafandr Kosmicheskiy, traduzindo tem o nada original nome de Escafandro de Astronauta, ele também teve uma variação, o SK-2, uma versão adaptada para o vôo de Valentina Tereshkova, que em 1963 passou quase três dias no espaço. O traje tinha modificações para funcionar melhor com a anatomia feminina, e toda ajuda ajuda quando você está tentando se contorcer pra fazer o número 1 (ou pior, o número 2) dentro de uma cápsula menor que o banco traseiro de um fusca.
Hoje
Temos no momento quatro modelos de trajes espaciais em atividade ou quase (em verdade 5 mas o chinês é kibe do russo) o da NASA, o Russo, o da Boeing e o da SpaceX. Dá pra perceber nitidamente a diferença entre os trajes projetados nos anos 80/90 e os do Século XXI. O mais triste é que falta aí o traje da NASA para a cápsula ORION, que está incrivelmente atrasado e corre o risco dos astronautas decolarem em 2022 usando o velho ACES (Advanced Crew Escape Suit), o nada elegante traje projetado em 1990.
2 – Os trajes para atividades extra-veiculares
Aqui a coisa fica mais divertida. Para sair da nave você precisa que seu traje suporte o vácuo do espaço, bem como as variações de temperatura, que vão de -100C a 120C dependendo se você está no Sol ou na sombra.
O frio é tranquilo, um bom isolamento térmico e seu corpo produz calor para se aquecer, mas quando tudo fica quente que é o problema. É muito complicado se livrar de calor no espaço, os trajes costumam ter serpentinas de líquido refrigerante e irradiadores térmicos para ajudar a resolver o problema.
Nos primeiros vôos os trajes espaciais eram ligados a sistemas de suporte de vida dentro das naves, os astronautas ficavam presos por um cordão umbilical, mas logo percebeu-se que não era nada prático, e as mangueiras não ajudaram quando em 1965 Alexei Leonov voltou de sua caminhada espacial de 12 minutos, apenas para descobrir que seu traje havia inflado além do previsto, e ele não conseguia entrar na escotilha.
Com oxigênio acabando, Leonov mal alcançava os dedos das luvas, e a muito custo acionou uma válvula para liberar o excesso de ar no espaço. Ele finalmente conseguiu entrar, mas uma série de outros problemas fizeram com que ele e Pavel Belyayev acabassem pousando 400Km fora de rota, e passaram a noite no frio da noite siberiana, mas isso é história para outro texto.
A roupa de astronauta feita para a Lua
Quando chegou a hora de mandar homens para a Lua, a NASA precisou de trajes espaciais que fossem verdadeiras naves autônomas, com todos os sistemas de comunicação e suporte de vida. Entre as várias idéias, algumas levavam o conceito de forma literal:
A proposta acima foi da Grumman Aerospace, mais acostumada a construir naves espaciais do que roupa, e em verdade nenhuma das empresas que a NASA procurou tinha experiência com o tipo de traje exigido; precisava proteger do calor e do frio extremos, manter os astronautas hidratados e oxigenados, funcionar dentro da cápsula espacial e na superfície da Lua, no vácuo.
A empresa que apresentou a melhor proposta acabou sendo a menos espacial de todas, a da ILC, International Latex Corporation, com sua subsidiária Playtex, especializada em… lingerie.
Uma empresa de Látex e Lingeries criada por um ex-técnico de televisão que se virou engenheiro por conta-própria não teria problema em se adaptar. Se adaptaram, a ponto do látex usado para as botas lunares vir do mesmo forno onde era curado o látex para cintas femininas. As peças de borracha eram presas com alças usadas em cintas-ligas e o tecido rígido do bojo dos sutiãs reforçava as juntas de borracha do traje.
As mesmas costureiras que faziam calcinhas e sutiãs faziam os trajes espaciais, mas a auditoria da NASA era ferrenha, cada ponto era contado, havia alfinetes de cores diferentes para cada costureira e se no final do dia um não aparecesse, paravam tudo até achar.
O resultado foi uma maravilha tecnológica, com 21 ou 22 camadas de materiais exóticos protegendo os astronautas dos rigores do espaço. Em Terra o traje espacial pesava 81Kg, na superfície da Lua, apenas 13, mas como sua massa não se alterava, a movimentação ainda era muito contra-intuitiva.
A organização interna do traje começa aonde termina a dignidade do astronauta. A primeira coisa que vestem é uma peça que a NASA chama de “Roupa de Absorção Máxima”, mas que nada mais é que a boa e velha fralda geriátrica. Isso mesmo, Neil Armstrong dava um pequeno passo para um homem, um passo gigante para a Humanidade e uma obrada básica, na falta de opção melhor.
A fralda era para o número 1 E para o número 2, e se a idéia de que os heróis astronautas exploravam a Lua fazendo splosh-splosh tira um pouco da grandiosidade da cena, você está certo.
Por cima disso o astronauta veste uma roupa colante com mangueiras fininhas percorrendo o corpo, por elas circula água gelada. Isso mesmo, crianças, assim como CPUs gamers, astronautas também são water cooled, mas felizmente ainda não inventaram roupa de astronauta RGB.
Daí em diante vem a roupa de astronauta propriamente dita, são camadas de nylon, neoprene, borracha, Mylar aluminizado, Dacron, Kapton, Teflon e outros tecidos de nomes estranhos com funções variadas. Algumas funcionam como isolante térmico, outras como proteção antifogo, outras como barreira anti-micrometeoritos.
A segurança dos trajes espaciais da NASA é tão grande que todos funcionaram de primeira, e em todos os anos de viagens espaciais, houve exatamente UM caso de traje espacial com problema estrutural, foi em 1991, quando o astronauta Jay Apt fez algum movimento estranho e perfurou sua luva, um pequeno orifício no indicador da mão direita.
Antes que o vazamento fosse sequer detectado pelo traje espacial, seu dedo fez contato com o buraco, a pressão lacrou o orifício e ele nem percebeu que trabalhou algumas horas com um pedacinho do dedo exposto ao vácuo do espaço. O problema só foi detectado depois, em uma inspeção de rotina do traje.
A Roupa de Astronauta do Futuro
Os trajes usados pelos astronautas da Apollo cumpriram seu papel, mas eram extremamente desajeitados, os astronautas caíam toda hora, se ajoelhar era um parto, levantar mais complicado ainda.
Parece divertido, mas se você cair em cima de uma pedra pontuda e seu traje furar, game over, man, game over. E é virtualmente impossível trabalhar com um traje desses, imagine construir uma colônia marciana usando essa roupa.
Vários trajes estão sendo desenvolvidos e pesquisados em laboratórios espalhados pelo mundo, mas o mais ousado é o BioSuit, Ele está sendo projetado por Dava Newman, professora de Engenharia do MIT, e é uma proposta completamente diferente: Ao invés de depender de estruturas rígidas para conter a pressão, ele é feito de componentes elásticos que atuam nas juntas.
A parte ruim é que dada a necessidade de trabalhar horas e horas na atmosfera rarefeita de Marte, dificilmente haverá um banheiro por perto, e debaixo de todo esse charme elegância e tecnologia, os astronautas continuarão usando a companheira inseparável dos exploradores do cosmos: A fralda de adulto.
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