A Crew Dragon subiu. Após um adiamento por causa de um clima miserável, após longos nove anos sem capacidade de colocar astronautas em órbita, os Estados Unidos recuperaram seu lugar e o número de países capazes de colocar astronautas no espaço subiu de novo de dois para três.
Ao contrário da Starliner, nada deu errado, o software da SpaceX não precisou ser consertado e a interface de toque foi aprovada pelos dois astronautas.
A interface aliás é um show à parte, remetendo ao Século XXI, enquanto a Boeing é muito mais conservadora, com um estilo mais Anos 60.
Precisamente às 19:22:45 do dia 30 de maio de 2020 Douglas G. Hurley e Robert L. Behnken decolaram levados por uma Falcon 9. O foguete se comportou admiravelmente bem, mas havia o medo das condições na área do pouso. O clima na região toda estava péssimo, as condições meteorológicas só ficaram verdes pouco tempo antes do lançamento.
Por mais que as balsas, digo, navios-drone da SpaceX tenham equipamentos avançados de estabilização, uma tempestade em alto mar é uma tempestade em alto mar, mas os deuses do espaço (segundo Daniken, astronautas) ajudaram. 9 minutos e 30 segundos após a decolagem, o Falcon 9 estava em segurança no convés da Of Course I Still Love You.
Enquanto isso a Crew Dragon seguia sua rota, ganhando velocidade até conseguir cair em direção à Terra mas errar o chão, ou seja, entrar em órbita.
Daí em diante foi caso de fazer um lanchinho, esticar as pernas e fazer a primeira transmissão. Depois eles passaram a monitorar a Dragon, que é totalmente automatizada. Foram 19 horas de vôo e várias manobras até chegarem na vizinhança da Estação Espacial Internacional.
A manobra final também foi automatizada. Com muito cuidado, só no sapatinho, a Dragon acoplou-se à ISS. Ao contrário das Dragons de carga, ela é capaz dessa manobra, pois há astronautas a bordo para assumir o controle se algo der errado.
Após a acoplagem foi iniciado a processo de pressurizar a câmara de entrada, que fica normalmente exposta ao espaço. Junto com isso vem a fase de equilibrar termicamente a área, do contrário os astronautas sofreriam queimaduras de frio ao encostar nas paredes.
Em seguida, abrem a escotilha da ISS para a câmara, e agora é só equilibrar a pressão entre a nave e a estação. Foram umas duas horas, entre testes e preparação, e então os dois emergiram triunfantes, recepcionados pelo som do sino de bordo. Sim, a ISS, mantendo a tradição naval, tem um sino.
A NASA está muito, muito satisfeita, a Dragon chegou antes do previsto e a própria NASA abriu mão de um dos períodos de espera durante a aproximação final, dado o comportamento exemplar da espaçonave.
Agora a grande questão é quando os dois voltarão para a Terra. A missão primária estava prevista para 30 dias, mas podem ficar até 90.
Resta à NASA um último abacaxi. Em maio eles anunciaram a contratação de mais um vôo de astronautas na Soyuz, há agora dois agendados. A compra foi por segurança, depois do fracasso da missão de teste da Starliner, e sem saber se a Dragon funcionaria, a NASA não queria ficar sem opções.
Problema: Os russos cobram da NASA mais de US$90 milhões por assento. O custo da Starliner da Boeing (se voar) será de US$75 milhões, e o custo da SpaceX por assento é de US$55 milhões.
O próximo vôo já está quase marcado. No final de agosto outra Crew Dragon levará quatro astronautas, dois homens, uma mulher e um japonês (isso ficou estranho) para a Estação Espacial Internacional, um feito impossível para a Soyuz, que mal e porcamente comporta três pessoas. A Dragon pode levar até sete.
Agora a cereja do bolo: Um tempo atrás Dmitry Rogozin, chefe da ROSCOSMOS reclamou das sanções que o governo americano estava aplicando contra a Rússia, e disse:
“Depois de revisar as sanções contra nosso programa espacial, sugiro aos Estados Unidos que mandem seus astronautas para a Estação Espacial usando um trampolim.”
Elon Musk, durante a coletiva de imprensa com os figurões da NASA estava eufórico com o sucesso da Dragon, e não resistiu, soltou no meio da fala de Jim Bridenstine, bambambam da NASA…
“O trampolim está funcionando”.
Dmitry Rogozin por sua vez, levou na esportiva, e ao mandar congratulações para a NASA e a SpaceX aproveitou pra dizer que adorou a piada.
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