O fetiche da inovação

Quem se opõe à inovação, hoje? Todo mundo parece desejá-la ardorosamente: o Vale do Silício, a conferência TED, a Comissão Europeia, os profissionais de capital para empreendimentos, Barack Obama. Até mesmo o jovem líder norte-coreano Kim Jong-un conclamou seus compatriotas recentemente a "carregar a tocha da inovação e construir um país socialista próspero". A inovação deixou de ser apenas jargão e se tornou um lema universalmente admirado, que une esquerda e direita.
É mais fácil compreender por que os valores da inovação –experimentação sem meias medidas, impaciência radical com a ordem vigente– atraem os progressistas de todo o planeta. Como demonstrou o historiador canadense Benoit Godin, no século 19 o termo "inovação social" era usado primordialmente para se referir aos ativistas socialistas insatisfeitos com o ritmo lento das reformas e que desejavam mudança radical e imediata (a edição 1888 da "Encyclopedia Britannica" chegava a definir "comunismo" como "nome dado aos esquemas de inovação social que tomam por ponto de partida a tentativa de derrubar a instituição da propriedade privada".)
Pelo final do século 20, porém, o termo havia perdido esse significado e passado a se referir primordialmente a novas práticas –em sua maioria de base tecnológica– que nem sempre causavam abalo na ordem social vigente. E esse continua a ser o significado ao qual a maior parte dos progressistas associa o termo hoje. O caso de amor da esquerda com a inovação é só um jeito de ocultar a gritante ausência de uma política de tecnologia –ao menos de uma política independente da infraestrutura e dos planos de negócios dos magnatas do Vale do Silício ou de seus equivalentes em outras nações– capaz de produzir benefícios sociais mais sólidos do que carros voadores ou pílulas de longevidade.
Leia mais (03/24/2014 – 03h30)

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