Alguns jogos possuem um roteiro tão espetacular, que torna-se fácil olhar para eles e imaginar como poderiam ficar caso fossem transformados em filmes. Um dos que sempre me passou essa impressão é o BioShock, que devido a sua ambientação fantástica e história muito bem escrita, acredito que poderia ter resultado num excelente longa-metragem. Porém, se dependesse dos executivos da Universal, é muito provável que essa adaptação tivesse dado origem a uma enorme bomba.
Cancelado há alguns anos, o estúdio nunca revelou o motivo oficial para o projeto não ter saído do papel e só agora, graças a uma entrevista dada por Gore Verbinski, é que ficamos sabendo os detalhes para Rapture não ter aparecido nas telonas. Ao conversar com o pessoal do site Collider, o diretor de filmes como Piratas do Caribe, Rango e O Chamado disse o seguinte:
“Foi estranho, na minha primeira reunião na Universal sobre o [filme] BioShock, eu estava sentado numa sala e dizendo, ‘ei caras, este é um filme de US$ 200 milhões para adultos.’ E houve silêncio. Lembro do meu agente dizendo, ‘porque você disse aquilo?’ E disse que falei porque era a verdade. ‘Porque simplesmente tentar matar um filme que nem havia iniciado?’ Aquilo foi antes do roteiro, antes de qualquer coisa. Eu apenas queria ser claro e penso que todo mundo no estúdio estava tipo, ‘bem, ok, talvez. Mas, uau! Não. Isso é muito grande, sabe.’
[…] estávamos prestes a começar a gravar um filme de US$ 200 milhões com classificação indicativa para adultos e eles se acovardaram. Acho que Watchmen: O Filme tinha acabado de sair ou algo assim. Então havia um pouco da ideia de que esses filmes precisavam ter uma classificação indicativa para maiores de 13 anos. Se eles custavam tanto, precisavam ser para maiores de 13 anos.”
Ainda de acordo com Verbinski, os estúdios contavam com pessoas que monitoravam dados que garantiam que era um risco muito alto investir tão pesado na criação de um filme que fosse restrito a um público mais velho e que por isso entende a postura da Universal. Ainda assim, ele considera que ter dado início a aquele projeto foi “uma grande perda de tempo”, pois chegou a conversar com o diretor do jogo e com diversos executivos ligados ao BioShock.
No entanto, Gore Verbinski não escondeu sua empolgação ao falar sobre a possibilidade de trabalhar com um material tão rico quanto o oferecido pelo jogo criado por Ken Levine. Segundo ele, uma das suas ideias era fazer com que os dois finais do BioShock pudessem ser incluídos na adaptação e embora não tenha explicado exatamente como isso seria feito, resultaria em algo que não tínhamos no jogo — pelo menos não em apenas uma conclusão da campanha.
Não há como garantir que a adaptação teria dado certo caso a Universal tivesse dado carta branca ao cineasta, mas é interessante saber que se não fosse da maneira que acreditava, ele preferia não fazer parte do projeto.
Outro ponto a ser citado é o quanto Levine estava envolvido na produção. Em 2013 o game designer chegou a citar o problema em relação a classificação indicativa com a qual Verbinski queria trabalhar, além de ter afirmado que o estúdio só liberaria US$ 80 milhões para a criação do filme. Como as partes não chegaram a um acordo, a Universal chamou outra pessoa para dirigir a produção, mas como não houve química entre eles, a Take-Two deixou nas mãos de Levine a decisão de encerrar o projeto, o que de fato aconteceu.
Enfim, o fato é que ao sabermos de tantos problemas, é inevitável não pensar que o melhor tenha sido tal filme não ter sido produzido. A franquia BioShock possui uma legião de admiradores justamente por causa da qualidade que entregou e por mais que eu acredite que essas pessoas não deixariam de adorá-la por causa de um filme ruim, esta é uma mancha que ela não merecia carregar consigo.
Pode ser que um dia esta adaptação volte a ser feita, talvez até como uma série, o que acho que seria melhor. Agora, querer fazer algo baseado nos fantásticos enredos daqueles jogos e que seja voltado para adolescentes? Isso não faz o menor sentido e não consigo imaginar como poderia ficar bom.
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